No coração da liderança organizacional vive uma escolha crítica: queremos ser responsáveis pelos resultados ou queremos controlar o processo? Esta não é apenas uma diferença de estilo — é uma diferença de cultura, de visão e, sobretudo, de coragem.
O líder orientado para os resultados define metas, mede impacto, compromete-se com o propósito. É alguém que compreende que a autonomia é o solo fértil da excelência. Assume riscos, distribui poder e permite que as equipas explorem soluções novas — mesmo que, no caminho, aconteçam falhas, porque sabe que não há transformação sem tentativa, e que não há tentativa sem liberdade.
Já o líder que controla o processo opera numa lógica de gestão conservadora. Cada decisão é precedida por aprovações sucessivas, cada inovação é travada pela norma em vigor, cada colaborador é visto como um executor, não como um cocriador. Esse líder não é movido pelo impacto, mas pelo receio. Confunde rigor com rigidez. E, pior ainda, confunde segurança com estagnação.
É neste ponto que emerge um dilema estrutural: Qual é, afinal, a relação entre regulamentação e criatividade?
A resposta é complexa — mas inadiável. A regulamentação, quando bem desenhada, é um fator de proteção da criatividade. Delimita o campo de jogo, cria confiança, previne abusos e oferece previsibilidade mínima num mundo volátil. Porém, quando usada de forma defensiva ou obsessiva, torna-se um instrumento de bloqueio do pensamento criativo, de erosão da autonomia e de adestramento da iniciativa.
Regulamentos não devem ser muros. Devem ser raízes flexíveis que sustentam a árvore da inovação, não uma coleira apertada à volta do seu tronco. A liderança do futuro será, cada vez mais, a capacidade de governar na complexidade, regulando sem asfixiar, orientando sem gerir até ao micro, exigindo sem paralisar.
Organizações que promovem uma cultura de responsabilidade pelos resultados — em vez de apenas reverem obsessivamente os processos — são mais adaptativas, mais competitivas e mais humanas, pois compreenderam que liderar não é ter tudo sob controlo, mas sim gerar valor a partir do inesperado. A verdadeira liderança não se refugia no regulamento para evitar decisões difíceis, mas usa-o como ponto de partida — nunca como desculpa.
No fim, fica uma escolha: queremos equipas que cumprem ordens ou que superam expectativas? Queremos líderes que garantem que tudo está certo… ou que garantem que algo de extraordinário acontece? A resposta fará toda a diferença — entre gerir o presente e liderar o futuro.