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No final do dia, o que deverá ser mais importante, termos identificado o melhor candidato ou o melhor potencial eleito para o cargo?

Na política, atividade que deve ser desenvolvida com superior inteligência e com superior delicadeza e utilização de certos valores, tenta-se sempre atingir certos objetivos que são previamente identificados como fundamentais para o desenvolvimento e satisfação das condições e/ou desejos dos que elegem os candidatos.

É isso mesmo que já devem estar a pensar, e o que é que isso tem de mais?! Para vos ser honesto, partilhando apenas a minha opinião muito particular, acho que têm razão, a questão em causa pouco ou nada de interessante ou inovador levanta.

Há aqui um pequeno detalhe que raramente vemos plasmado ou sequer identificado neste tipo de textos de opinião, e esse detalhe poderá, esse sim, colocar questões que poderão ter um impacto profundo na análise de quem se disponibiliza a “ir a jogo”. Estou a referir-me à forma de quem e como se identificam os protagonistas e os seus compagnons de route para estes desafios.

Facilmente se poderá constatar que num cenário macro e idílico, as pessoas que se identificam com valores, ideias e princípios, e que os conseguem conciliar com o que defendem ser uma ideia base para a comunidade (seja ela freguesia, município, distrito ou zona metropolitana, ou o próprio país) poderão estar a um passo de liderarem um destes processos. Claro está que antes de tudo isto teve de haver uma disponibilidade total para abraçar o desafio! Esta é claramente a base do raciocínio que nos leva depois a poder observar as famosas listas de candidatos a múltiplos lugares públicos.

Colocando-me no lugar de quem tem de tomar decisões, a primeira questão é claramente quem convidar. Um bom candidato, enquanto elemento com especial aptidão para desenvolver o tipo de campanha que vulgarmente vemos, ou um bom potencial eleito, aquele que tem o perfil adequado para depois de eleito poder desenvolver o trabalho de representar adequadamente os seus eleitores e a sua comunidade? Esta será uma decisão que muito provavelmente irá ditar de uma forma indelével o resultado do desafio que tem entre mãos.

Pois bem, tenho para mim, na política e não só, que os caminho mais duros e tortuosos têm tendência para ser os que proporcionam resultados positivos mais sustentados e duradouros. Assim, sinto claramente uma tendência para defender a teoria do bom potencial eleito em detrimento do bom candidato.

As comunidades estão cada vez mais cansadas dos “bons candidatos”, dos “simpáticos”, dos que nunca dizem que “não”, dos que defendem algo e o seu oposto na mesma frase se isso significar a angariação de mais uma dúzia de votos. Sobre isto, adianto desde já que, tenho consciência dos fenómenos de populismo que grassam na nossa sociedade, mas mais preocupante do que esses fenómenos de populismo claramente assumidos pelos seus protagonistas, é o populismo que teima em manter-se em grande parte do território disfarçada de muita coisa, muitas das vezes completamente oposta ao que se propagandeia e se concretiza…

As comunidades hoje, já são tendencialmente lideradas pela geração X (nascidos entre 1965 e 1980) e pelos Millenials (nascidos entre 1981 e 1996) e isso traz-nos uma capacidade de abraçar os desafios completamente diferente das gerações anteriores. O pragmatismo é um valor cada vez mais valorizado e permite uma abordagem que por vezes até parece desprovida de idealismo, mas que na minha perspetiva é exatamente o contrário. O idealismo implícito nestas gerações é claramente um idealismo muito mais flexível que qualquer corrente ideológica do “passado”, é claramente um idealismo que além de valorizar o ser humano, fá-lo de uma forma muito mais crua, valorizando muito mais a sua envolvente.

Sobre esta questão gosto sempre de lembrar que, com tudo o que isso tem de positivo e negativo, tendencialmente quase passámos do “papel timbrado” para a mensagem de WhatsApp ou Telegram!

Julgo que o eleitor de hoje é muito menos romântico do que o eleitor das gerações que vivenciaram as grandes mudanças na sociedade que aconteceram no passado. É um eleitor, se quisermos, mais frio na sua análise, provavelmente porque não teve de passar por nenhum processo doloroso de mudança. Isso faz com que haja uma franja da nossa sociedade que efetivamente gosta de debater ideias e projetos em detrimento da simples afinidade, da mais diversa ordem, que liga outros ao candidato A ou ao candidato B. Ora, se expurgarmos o eleitor que prefere não participar ativamente no ato da escolha (abstencionista), penso que podemos dizer que os dois principais tipos de eleitor foram descritos atrás.

Voltando à questão inicial deste texto, assumo que anseio pelo dia em que o eleitor que prefere debater ideias e projetos seja o que defina a nossa comunidade (acho que hoje não o é…), por isso, claramente se alguma vez estiver em circunstância de ter de participar num processo de construção de candidatura, seja ao que for, tudo farei para que o bom potencial eleito seja sempre o objetivo fundamental!

Alguns dirão que esse caminho dificilmente me levará a resultados positivos ao nível do nosso concelho, ao que eu responderei que “dificilmente” não é sinónimo de “impossível” e que “A individualidade de cada um de nós será sempre o primeiro passo para uma caminhada em conjunto”.

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