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Esta última semana foi marcada por, entre várias outras coisas muito mais importantes, como a existência de várias guerras em simultâneo ou a discussão para o Orçamento de Estado 2025, um pedido de Diogo Faro: dinheiro.1

Fiquei genuinamente estupefacto. Não pelo ato per se, mas pela reação que gerou. Inicialmente demorei largos minutos até perceber o porquê de toda a polémica, mas creio ter alcançado a essência da questão. Esta essência tem vários nomes. A filosofia chama-lhe incoerência moral, a psicologia chama-lhe dissonância cognitiva e o povo chama-lhe política: quando as nossas ações vão contra os nossos (supostos) valores. Em dois episódios seguidos, Joana Marques fez uma excelente compilação destas incoerências do Diogo Faro, as quais recomendo vivamente.2 3

Este artigo, porém, é um artigo em defesa do ato de pedir doações. Pedir doações para financiar um determinado conteúdo é a definição de capitalismo em funcionamento. Assenta em duas premissas: 1) o criador de conteúdo precisa do dinheiro para melhorar ou sustentar o conteúdo; 2) o doador valoriza o conteúdo o suficiente para fazer a doação. Caso ambas as premissas se cumpram, a transação acontece. Aliás, por vezes basta a segunda premissa ser cumprida, dado ser uma doação e dado não precisarmos de conteúdo para sobreviver, algo que em 2024 já seria debatível, diria. O que Diogo Faro fez foi revelar ao público a primeira premissa. E, tirando as incoerências de cima da mesa, por motivos argumentativos, este ato não pode ser menosprezado – o criador do conteúdo precisa do dinheiro. 

Diogo Faro, muito possivelmente sem reparar, usou também uma das estratégias mais usadas pelos horrendos e desprezíveis capitalistas ricos: a honestidade 4 5 6– explicou ao público que beber umas cervejas estaria incluído no seu orçamento. Algo que eu valorizo, mas imagino que o próprio dirá, para se distanciar destas comparações, que “isso é o que esses capitalistas imundos dizem, mas depois nunca cumprem, são uns abusadores da ingenuidade do povo”. Nesse caso, convido novamente o leitor a ver os dois vídeos da Joana Marques que referenciei, e depois me tentem explicar as diferenças entre o capitalista imundo e o Diogo. Pese embora não concordar com a grande maioria das opiniões de Diogo Faro, parabenizo-o pelo pedido público de doações, ato que espero que não fique manchado pelas suas incoerências e que não desmotive o consumidor de doar.

Este tipo de angariação de capital (não tenho qualquer intenção de dar trigger ao Diogo com estes “termos capitalistas e liberais”) é algo que também estamos a fazer na Reconhecer o Padrão. Em breve (ou já, caso estejam a ler isto no futuro) lançaremos uma campanha de GoFundMe, porque, tal como o Diogo: 1) precisamos de dinheiro para sustentar os nossos custos e melhorarmos a qualidade do conteúdo; 2) caso o leitor sinta que lhe adicionamos valor à sua vida e queira contribuir, estamos aqui para usar essa doação em prol desse mesmo conteúdo. Estas são as duas premissas supracitadas neste artigo. Reparem que não nos diferenciamos do Diogo em muitas mais coisas. Estamos também conscientes de que apenas o consumidor do conteúdo pode tomar esta decisão. Estamos também comprometidos a tornar as doações uma das mais importantes fontes de receitas para nós. Estamos, assim como o Diogo, dispostos a receber vários milhões de euros de doação. No entanto, temos a humildade (por vezes confundida por ignorância) de não atribuir um viés político como causa do possível falhanço do nosso GoFundMe. Caso seja um falhanço, tal como qualquer outro falhanço no mundo empresarial, advirá de termos criado algo que, pasmem-se, o público não está disposto a pagar. Espero vivamente que este mau exemplo de pedido de doações não manche todos os pedidos de doações e comprometo-me, como líder desta revista, a manter as nossas decisões coerentes, transparentes, honestas e sempre orientadas a melhorar o nosso conteúdo até ao seu máximo potencial. E, obviamente, também gostaria de poder pagar umas cervejas à equipa que mantém esta revista viva e de excelente saúde.

Por fim, e assumindo ingenuamente que o Diogo Faro quer esclarecer algumas destas questões, convido-o a escrever para a Reconhecer o Padrão ou a ser um dos convidados do nosso podcast Sem Asteriscos.


  1. Diogo Faro. diogofaroidiota. 10/10/2024. Post. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/DA8mGSPiihE/?img_index=1 ↩︎
  2. RENASCENÇA. 16/10/2024. Pay for Diogo Faro – Extremamente Desagradável. YouTube. Disponível em: https://youtu.be/VLjRIG_3FVQ?si=K5G_AV3vYsik9S1b ↩︎
  3. RENASCENÇA. 17/10/2024. Diogo Faro Niente – Extremamente Desagradável. YouTube. Disponível em: https://youtu.be/Qdi2BO_y_kw?si=XsTipKbOneWYNZ1C ↩︎
  4. Jacob Orosz. M&A Negotiating Tactic #1 – Honesty. Morgan & Wesfield. Disponível em: https://morganandwestfield.com/knowledge/negotiating-tactic-honesty/#:~:text=Not%20only%20is%20an%20honest,pay%20more%20for%20your%20business ↩︎
  5. Tom Stimson. 19/05/2022. The Importance of Honesty in Sales Conversations. Post. Linkedin. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/importance-honesty-sales-conversations-tom-stimson/ ↩︎
  6. Nicole Sudjono. 23/07/2021. I’m Learning How to be Genuinely Honest Like Elon Musk. Medium. Disponível em: https://medium.com/mind-cafe/im-learning-how-to-be-genuinely-honest-like-elon-musk-5d6d64aab40c ↩︎

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