Como é bastante frequente na área da Nutrição, de vez em quando, surgem hot topics controversos que merecem atenção, com o devido bom senso e espírito crítico por parte dos profissionais da área. Há uns meses, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou uma recomendação na qual considera que os edulcorantes não devem ser utilizados como estratégia para a perda de peso e redução do risco de doenças crónicas não transmissíveis. Verdade seja dita, ao longo dos anos, os adoçantes sempre foram um assunto polémico. Não só devido a desconhecimento na área de Nutrição e a ideias completamente fundamentalistas, como também por falta de bom senso naquilo que é uma consulta de Nutrição e pelo que se espera de uma mudança de hábitos alimentares numa sociedade que não deixa de ser moderna.
Os adoçantes são frequentemente utilizados pela indústria como substitutos do açúcar, de forma a manter o sabor apelativo dos alimentos. A grande parte dos adoçantes é isenta de calorias, não interferindo no valor calórico dos alimentos e deixando-os mais atrativos para aqueles que procuram perder peso. Por isso, tornam-se efetivamente uma melhor escolha face aos produtos açucarados. E é aqui que a ciência começa a ser dúbia e a caminhar por zonas ainda muito cinzentas. Apesar do partilhado pela OMS, não há evidência em humanos, nem suficientemente robusta, que associe o consumo de adoçantes a efeitos adversos à saúde. Aos interessados, deixo a análise crítica à ciência para o Dr. Vítor Hugo Teixeira, considerado pai da Nutrição em Portugal, numa brilhante publicação de ‘Instagram’.
Pela minha experiência profissional, a relação paciente-profissional estabelece-se desde logo pela forma como se aborda determinado assunto e se é aberto (ou não) à sua relativização. A verdade é que não é preciso muita sensibilidade para se perceber que, em contexto de Nutrição Clínica, é muito mais motivador um meio-termo (e, por isso, com possibilidade de maior taxa de sucesso) do que coisa nenhuma. A empatia na consulta de Nutrição e na promoção da mudança de hábitos alimentares é, efetivamente, uma parte que falha à ciência e, infelizmente, a muitos profissionais da área, sendo que é nela que se baseia o verdadeiro entender sobre o comportamento humano.
Todos sabemos que a água é, ou pelo menos deve ser, a nossa bebida de eleição. Acredito que ninguém que esteja a ler este artigo precise que a OMS o declare publicamente. No entanto, também acredito que, muitas vezes, e para se conseguir o melhor dos dois mundos (uma alimentação equilibrada e uma composição corporal esteticamente apelativa e a manutenção da vida social e familiar, que, muitas vezes, impreterivelmente, gira à volta de comida), a solução é mesmo o chamado menos pior. A vida vai acontecendo e, pelo meio, vamos colhendo os frutos da consistência e das pequenas batalhas que percebemos que vale a pena travarmos.
Por fim, o que sinto com base no que vou assimilando em consulta é que o fácil acesso a textos relacionados à Nutrição (que nem sempre se traduzem em informação de qualidade), e a forma como muitos temas são expostos, só afastam o público de uma área que deveria ser do interesse de todos. Por isso, acredito que escolher de onde vamos beber informação e procurar apoio nesta área é fundamental para não se acabar num beco sem saída.
Pintura de capa por Gerret Willemsz Heda
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