Não gosto do tempo. Não gosto do conceito. E muito menos gosto das explicações que tentam dar, das soluções que tentam arranjar para o controlar. Sou inimigo do tempo e o tempo é meu inimigo.
Passaram quase 3 meses desde o meu primeiro artigo. Passou o tempo… e não parou, não olhou. Trouxe, mas não reteve. Continuo na luta, continuo a tentar fugir ao tempo que teima e persiste em avançar. Mas nada o faz parar.
Sou músico: faço parte dos Maria Café, uma banda emergente em Portugal, com perspetivas de um futuro risonho. Mas o tal tempo que nos espera está distante e sinais de que esteja para breve continuam por surgir. Passaram três meses desde que escrevi o meu primeiro artigo. Nesse tempo, estivemos duas vezes em Ílhavo, Tui-Valença (sim, em Espanha), Lisboa, Anadia e Alcanena. Seis concertos, possivelmente mais de mil pessoas na junção de todos eles, pessoas de nacionalidades diferentes, locais diferentes, unidas pela música, pelo festival ou concerto, pelo local onde estávamos. E sim, tocámos em Espanha, algo que nenhum de nós acreditava ser possível!
Não quero repetir neste artigo as coisas que disse no primeiro. Nem neste, nem nos próximos, mas é inevitável ter de falar do nosso ponto de situação. Quando me refiro a isto, refiro-me à banda e a cada um dos seus membros. Mais de metade destes concertos que tivemos foram conseguidos única e exclusivamente graças ao nosso esforço e dedicação. Esforço esse que devia e podia estar mais direcionado à música, à criação. Tempo, esse existe, mas não sobra, não chega para tudo e, por vezes, não chega para nada.
Oportunidades que surgiram no final destes concertos? Penso que apenas uma. O ano passado inscrevemo-nos numa plataforma chamada d’Orfeu – OuTonalidades. Esta plataforma serve quase como uma base de dados de artistas emergentes e ajuda os mesmos a terem algumas oportunidades. Pagámos uma taxa de inscrição e agora esperamos. Aguardamos que o tempo faça o seu trabalho e traga até nós algo que nos volte a acender a chama.
Tui-Valença foi uma experiência proporcionada pela d’Orfeu. Foi a nossa primeira parceria juntos e nem o tempo chuvoso de Espanha nos parou! Este “tempo” é outro, sim, mas o conceito é o mesmo. O concerto foi adiado para o dia seguinte devido ao mau “tempo”, mas o sol abençoou a nossa atuação. “Abençoou”, já pareço o João Carvalho e o João Areias a falar! Dois membros da banda cujas vidas estiveram e continuam a estar ligadas à igreja e aos seus ensinamentos, pelo menos a alguns deles. Mas este não é um tema para hoje e para dizer a verdade, não sou a melhor pessoa para o explorar.
Desta parceria surgiu outro concerto, a tal oportunidade de que vos falava. Vamos estar em Albergaria-a-Velha, em novembro, para mais um concerto intimista. Mas, fora essa exceção, tudo o resto tem sido conseguido devido ao esforço do grupo. Desde 2022 que é assim; não desistimos, estamos focados, empenhados, motivados. Nem sempre é assim e sou o primeiro a ir abaixo. Sou um romântico por natureza, podem encontrar indícios disso nas nossas músicas, nas palavras que canto. E esta minha ideia romantizada de que tudo vai acabar por acontecer, a sorte vai chegar, o reconhecimento vai aparecer, por vezes cai por terra quando vejo que nada acontece, quando vejo que o tempo anda, mas eu continuo parado. E, muitas vezes, a andar para trás.
Combato esta minha maneira de ser com ideias mais estratégicas e frias até. Mentalizo-me de que o dia pode nunca chegar, que o tempo pode nunca vir a ser meigo comigo, connosco, mas tenho a certeza de que esta paixão, este querer, este nunca vai morrer. Aliás, morre, sim, quando eu morrer também.
Agora e daqui para a frente, vou mostrar-vos“ O Que Consigo Ser”, com menos filtros, mais verdades, mais histórias, mais dicas e ajudas para que pessoas como eu possam expressar o que sentem, possam acreditar, lutar e desafiar o mundo. O tempo, esse, temo que não seja possível comandar, desafiar ou controlar. Se nem o tempo que não é tempo conseguimos controlar, quanto mais o tempo que faz a nossa vida andar. Na minha humilde opinião penso que devemos deixá-lo andar à solta, quanto mais tentamos ter controlo sobre algo, mais ele nos escapa. Nós vamos continuar, os 5, em busca do mesmo objetivo. Sabemos que a ajuda demora a chegar e pode até nem chegar.
Aveiro, continuamos aqui, somos da terra, do povo. Estás aí? Ouves o nosso apelo?
Portugal, continuamos aqui, somos do país, somos da terra, somos o povo. Estás aí? Ouves o nosso apelo? Ouves a nossa música? Se ainda não, porque não acreditas em nós? Em nós e em todos aqueles que merecem um pouco mais?
Estamos cá, quando quiseres, chama. Nós vamos!
Temos tempo. Até deixarmos de o ter.
Pintura de capa por Antonio Pereda
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