Não falamos de dinheiro e como isso nos afeta

Tempo de leitura: 4 minutos

Já todos sabemos que não falamos o suficiente sobre dinheiro. Mas será que estamos conscientes dos motivos pelos quais o fazemos e das implicações que isso traz à nossa vida? Qual será o motivo que nos leva a escolher sempre não falar (e, muitas vezes, não pensar sequer) sobre algo tão importante e essencial à nossa sobrevivência? O que será que o dinheiro traz associado para nos fazer não querer trazer o tema para cima da mesa num almoço de amigos ou familiares?

Infelizmente, e na maioria das vezes, é a aura de escassez, preocupação, revolta e até mesmo stress que envolve esse tipo de conversa. Falar de dinheiro não é apelativo, e é natural que a conversa seja trocada por outra com uma temática mais agradável e menos invasiva.

Invasiva porque nos dias de hoje é inevitável não ligar o saldo da nossa conta bancária e o salário que recebemos ao nível do nosso sucesso. Como se isso não estivesse já errado por si só, ainda medimos o nosso sucesso e bem-estar na vida usando a régua do sucesso da vida dos outros. Olhamos para os nossos amigos, colegas ou familiares, e é o estilo de vida deles que nos diz se a nossa vida está bem ou não. É a casa onde eles moram, o carro que conduzem, o trabalho que têm e as férias que fazem. Não é o nosso esforço nem o nosso empenho diário, não são as nossas coisas nem as nossas conquistas.

E este é outro motivo pelo qual, na maioria das vezes, evitamos falar sobre dinheiro. Para evitar o julgamento que achamos que os outros vão fazer. Não mencionamos que nos custa ir a mais um jantar, que a prenda de aniversário a dividir por todos não estava nos planos, ou que o concerto a que todos querem ir sai fora do orçamento para o mês.

Imagine que recebe um convite para jantar num restaurante onde um dos seus amigos adora ir. Um restaurante caro, que para ele é perfeitamente normal, porque ganha o dobro de si e não tem tantos encargos, mas que, para si, tem um peso significativo no orçamento. Ao seu amigo não lhe ocorre que para si pode ser um constrangimento financeiro, pois para ele ir a esse restaurante é normal. Decide aceitar o convite do seu amigo porque não quer ser desmancha-prazeres, e nem sequer lhe ocorre o erro que está a cometer. Ao aceitar o convite do seu amigo, está a validar e a aceitar a possibilidade de irem mais vezes.

Ao omitirmos aos nossos amigos que não temos capacidade financeira para alinhar em determinado programa, estamos a validar a nossa capacidade de acompanhá-los. A longo prazo, e ao alimentar um estilo de vida que é impossível de suportar, podemos estar a contribuir para arruinar a nossa vida financeira.

Quão grave seria dizer ao seu amigo que adoraria jantar com ele, mas que neste momento o restaurante que escolheu está fora das suas possibilidades? Porque não sugerir jantar com o seu amigo em casa ou num restaurante mais alinhado com aquilo que pode pagar? Aquilo que é aceitável a nível financeiro vai-se alterando ao longo da vida e de pessoa para pessoa, e se não falarmos sobre isso, as outras pessoas não vão adivinhar o que é aceitável ou não para nós.

É por isto que é urgente sermos mais sinceros connosco e com os outros sobre as nossas possibilidades financeiras. Se falássemos mais abertamente sobre dinheiro, muitos dos problemas de gestão do orçamento desapareceriam. Quantas vezes disse que sim a um jantar que acabou por destabilizar as suas finanças? Quantas férias fez, com amigos ou família, acima das suas possibilidades? A quantos eventos foi com receio de dizer que não?

Cada um de nós entende e lida com o dinheiro de forma diferente; somos sempre influenciados pelo salário que recebemos, pela educação que tivemos, pelos hábitos que alimentamos, pelas possibilidades que temos, mas, acima de tudo, pelas prioridades que definimos para a nossa vida. O que para si é um luxo, para um amigo ou familiar é o normal. Nenhum está certo ou errado. São apenas entendimentos diferentes relativamente ao que é importante e uma prioridade.

O erro está na falta de compreensão e diálogo. Se falássemos mais vezes, em família, casal ou no grupo de amigos, sobre as nossas prioridades e os nossos objetivos financeiros, de certeza que encontraríamos mais compreensão do que aquela que julgamos que vamos ter. Se quer que o dinheiro deixe de ser um problema nas suas relações, comece a falar mais sobre ele e deixe de se importar com o que vão achar das suas escolhas, dos seus objetivos, das suas motivações ou condições financeiras. Elas são suas, fruto da sua história de vida e daquilo que quer construir e alcançar. Pense em si e lute pelos seus objetivos, sejam eles quais forem, e dê os passos necessários para os conseguir alcançar.

Partilha este artigo:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.