Reconhecer o Padrão

Num mundo que muitas vezes parece dominado pela agitação, ansiedade e pelo ‘stress’, é fundamental pararmos para refletir sobre a importância da saúde mental e do bem-estar nas nossas vidas. Afinal, o que seria de nós se não pudéssemos lidar com as pressões do dia a dia, explorar as nossas capacidades e contribuir para a comunidade de forma significativa? A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como mais do que apenas a ausência de doença; é um estado de bem-estar no qual podemos florescer e prosperar. Infelizmente, em Portugal, assim como em muitas partes do mundo, a saúde mental ainda é pouco reconhecida e frequentemente negligenciada.

Um ambiente de trabalho saudável compreende um ambiente em que os seus profissionais e gestores agem colaborativamente num processo de desenvolvimento contínuo e há proteção da sua saúde, segurança e bem-estar. Pelo contrário, ambientes de trabalho causadores de ‘stress’ são um fator de risco para o desenvolvimento de perturbações mentais comuns, como é o caso de quadros de depressão e ansiedade – as causas mais frequentes de incapacidade ocupacional. A qualidade e satisfação com o trabalho influenciam o nosso nível percebido de saúde mental, e a nossa saúde mental, por sua vez, influencia a qualidade e satisfação com o nosso trabalho. Também a produtividade individual e organizacional é componente do bem-estar emocional. É neste sentido que se desenvolveu o Programa de Saúde Mental e Bem-Estar, adiante designado por PSMBE, destinado a residentes, profissionais e familiares, instituído numa Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI), no norte de Portugal.

O PSMBE surge com o propósito de melhorar a qualidade de vida dos envolvidos, através da promoção da saúde mental e do bem-estar. Não há saúde sem saúde mental e, dada a expressão de perturbação e doença mental no nosso país, bem como o impacto da pandemia de COVID-19, a ação da sua promoção sobre a comunidade nas ERPI é indispensável. Os níveis de isolamento social com impacto direto na saúde mental e bem-estar, nomeadamente, elevados níveis de ansiedade, humor deprimido, quadros depressivos, menor tolerância a desafios e maior labilidade emocional, foram alguns dos problemas identificados. É vital compreender que a saúde mental não é apenas uma preocupação individual, mas sim um recurso essencial para o bem-estar coletivo. Ambientes de trabalho saudáveis são fundamentais para promover a saúde mental dos profissionais que, consequentemente, se reflete diretamente na qualidade dos serviços prestados.

O PSMBE é composto por sessões de acompanhamento psicológico; estimulação e treino cognitivo; atividades físicas, de lazer e socioculturais; ações formativas; e sessões de relaxamento/‘mindfulness’ a realizar na instituição. Foi criada a “Sala do Bem-Estar”, onde tanto residentes como profissionais, sempre que se sintam mais ansiosos, deprimidos ou com algum desconforto emocional, podem ouvir música, fazer uma sessão de relaxamento ou até de meditação conduzida.

Para os residentes, o programa engloba também sessões de estimulação e treino cognitivo individuais e/ou em grupo, acompanhamento psicológico permanente, sessões de relaxamento e massagem, bem como atividades socioculturais variadas e dias temáticos que, na maior parte das vezes, têm subjacentes as vivências ocorridas ao longo da vida. São exemplos:

Para os profissionais, foi composto um conjunto de ações formativas incidentes em temáticas de interesse, como atividades focadas na promoção do trabalho em equipa e gestão de conflitos, cujos desafios apenas são ultrapassados com o empenho de todos. A partir da aplicação de um questionário, na secção “Gostaríamos da vossa contribuição para a escolha de temas de formação que fossem importantes para um ambiente de trabalho saudável”, emergiram os temas:

• Abordagem a residentes com demência
• Estilos de comunicação e trabalho em equipa;
• Gestão de conflitos;
• Gestão emocional e de ‘stress’;
• Estratégias de inteligência emocional;
• Relacionamentos interpessoais;
• Alegria no trabalho;
• Comunicação com o idoso, compaixão e empatia;
• Comunicação em final de vida, morte e luto.

Já decorreram as ações de formação sobre os dois últimos tópicos apresentados. Foram ainda desenvolvidos materiais psicoeducativos, nomeadamente, vídeos informativos de curta duração (1 minuto)[1]. A par disto, o PSMBE também oferece aos profissionais sessões de relaxamento e ‘mindfulness’ e sessões de acompanhamento psicológico. Não ficam de fora as atividades de lazer, como almoços e festas temáticas, como também lhes é proporcionado um mural onde cada profissional pode escrever mensagens motivacionais.

Para os familiares, constam no PSMBE as ferramentas necessárias que melhor lhes permita lidar com o processo de institucionalização do respetivo familiar e situações de fim de vida e morte, tais como sessões de acompanhamento psicológico, sessões de relaxamento e massagem e participação nas atividades socioculturais supramencionadas. O envolvimento nestas atividades socioculturais, desenvolvidas na instituição, permite aos familiares, não apenas sentirem-se parte integrante da mesma, como também estreitar laços entre todos. “Espetáculo de magia”, “Caminhada Solidária Maior” e o “Mercadinho de Natal” são algumas das atividades executadas no âmbito do PSMBE. Da mesma forma, sempre que demonstram interesse, os familiares dinamizam ‘workshops’ para os residentes, desenvolvendo um sentimento de pertença, contribuindo e partilhando conhecimento. Destacam-se os ‘workshops’ “Arte e pintura”; “Arranjos Florais” e “Marmelada com sabor”.

Este programa pode ser replicado em várias instituições, permitindo, assim, a integração dos vários envolvidos, tronando-se numa ferramenta importante para alterar o paradigma da inércia em muitas ERPI do país. A partilha de recursos entre instituições é o segredo para desenvolver este tipo de projetos sem investimentos. A capacitação e motivação dos recursos humanos, reconhecimento do trabalho e inclusão dos familiares são fundamentais para uma transparência e aumento da confiança na instituição. Promover um envelhecimento ativo e saudável deve ser um objetivo premente das ERPI. Abrir portas à comunidade, tornar os familiares parte integrante e decisora, é fundamental.

Em suma, a saúde mental não é apenas uma preocupação individual, mas sim um recurso essencial para o bem-estar coletivo. Ao reconhecermos e valorizarmos a importância da saúde mental e do bem-estar nas nossas vidas, e na vida dos que nos rodeiam, é um passo significativo em direção a uma sociedade mais saudável, resiliente e compassiva. Posto isto, deixamos em aberto… Onde quer trabalhar? Onde quer ver os seus entes queridos envelhecer? Onde quer envelhecer? O futuro é já ali, façamos a diferença hoje, para os de hoje e para os do amanhã.

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[1] Vídeo publicado todas as segundas-feiras, que ficará ativo durante uma semana – dica da semana – acerca das seguintes temáticas: Estratégias para higiene do sono; Como lidar com a ansiedade; Luto; Emoções e os seus significados; Potenciar emoções agradáveis; Autoestima; O poder do elogio; Compaixão e empatia; A importância de cuidar do outro; Comunicação com o residente e familiar; Cuidar até ao fim; Importância da abordagem não farmacológica; Importância do cuidado da imagem na saúde mental e bem-estar.

Obrigada doce Sofia Fontoura Dias pelo contributo para o desenvolvimento do PSME