Este tema dá pano para mangas. Podemos abordar o ponto de vista social, sociopolítico, financeiro, etc. Somos uma geração que separa tão bem a parte humana da parte sexual, engrandecendo esta ultima de tal forma, que já quase nem nos reconhecemos enquanto pessoas. Somos objectos que suprimem desejos, desejos estes que, para muitos, são guias da própria vida adulta. Será possível termos separado estes tão bem, que há pessoas que apenas se sentem atraídas sexualmente a um género, desprezando totalmente todas as outras facetas humanas e de personalidade? Se eu me lembrei de uma quantidade absurda de histórias em que faltaram ao respeito à integridade pessoal no momento que a parte sexual deixa de ser assunto, vocês também. Serve para homens e mulheres, porém tenho o palpite que as mulheres sofrem mais com esta questão.
Desde quando é que o sexo deixou de ser o pico de intimidade e carinho pela pessoa que temos ao lado? Será que cedemos ao nosso nível mais animalesco e instintivo? Ou o medo do compromisso e vulnerabilidade nos levou a racionalizar/separar o que não o devia ser? Não querendo passar a mensagem errada, não considero que haja nada de errado numa relação meramente sexual entre duas pessoas: desde que haja respeito e carinho. Acredito que estas relações “toca e foge”, que nem chegam às 24h e foco é apenas o corpo, criam danos até na forma como nos vemos/relacionamos connosco próprios, fazendo o processo reverso à maturação emocional, mesmo que o relacionamento seja por mútuo consentimento, e não manipulando o outro. Somos uma geração que amadurece cada vez mais tarde, andamos neste parque de diversões em que só somos responsáveis por nós próprios, o que torna algumas pessoas bastante mais infantis e apegadas a esse “conforto”.
Na minha opinião, arrisco-me a dizer que a infantilidade que gera estas situações pode advir do contexto educacional e contexto económico-financeiro. Tiraram-nos a dignidade de poder amadurecer. Nós, enquanto jovens portugueses, temos cada vez mais dificuldade em sair de casa dos pais e viver sozinhos, porque simplesmente não dá para arrendar uma casa. Só nesse período em que se vive sozinho é que é possível aprender e crescer de forma a perder estes traços infantis de adolescente que, ou vive em casa dos pais, ou vai a casa todos os fins de semana para lavar roupa. Ora, imaginemos que há um casal que ultrapassa todos os obstáculos da sociedade e querem ficar juntos: mesmo com um curso, no máximo conseguem um T1. Até serve nos primeiros tempos, mas e depois? Há hipótese de ter uma boa vida, ter filhos? Porque a parentalidade será sempre uma discussão quando se vive em casal, mas a grande questão não é se querem, mas sim se podem… Para além disso, já não se perguntam se vão emigrar, mas quando vão. Se é algo péssimo para um país com baixos níveis de produtividade e de natalidade? Sem dúvida. Mas, o país incentiva-nos a ficar? Os salários são dignos? E, por amor de Deus, não me falem em subsídios. Dificilmente alguém que recebe bem volta ao país, porque aí é que está, não nos tratam com dignidade, não há recompensa pelo esforço. E sim, é infantil achar que a componente sociopolítica se exclui da equação, sendo inevitavelmente uuma grande componente da vida de qualquer um.
Pintura de capa por Gustav Klimt
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