O envelhecimento populacional é um problema cada vez mais patente em Portugal. O país enfrenta desafios na renovação geracional, refletidos no atual índice de envelhecimento da população, que se situa em 185,6 idosos para cada 100 jovens. Ao analisarmos os dados de nascimentos e óbitos ao longo dos últimos 12 anos, concluímos que, de 2011 a 2023, o número de óbitos em Portugal foi sempre superior ao número de nascimentos. O ano de 2024 não parece apresentar uma tendência positiva, como podemos observar numa notícia de 19 de janeiro deste ano, em que morreram mais de 8.600 pessoas nos primeiros 18 dias do ano, ultrapassando em 1.858 o número esperado, a um ritmo sempre superior a 400 óbitos por dia.
As causas do envelhecimento populacional em Portugal são multifacetadas e exigem uma análise atenta para conseguirmos compreender e enfrentar as consequências a médio e longo prazo no nosso país. Uma das principais causas encontra-se na significativa redução da taxa de natalidade ao longo dos anos. Embora tenha havido um aumento em 2023, este foi muito modesto, não revertendo a tendência geral de declínio. Quanto à diminuição da taxa de mortalidade e à elevação da esperança média de vida, apesar de serem extremamente positivas no nosso país, mostrando que houve progresso dos cuidados de saúde em Portugal, são dois fatores que contribuem para o envelhecimento da população, acentuando o desafio demográfico.
Não obstante, existem outras causas que, embora não estejam diretamente relacionadas à demografia, agravam significativamente o problema. Destaca-se a emigração acentuada da população jovem para fora do país – uma realidade preocupante, uma vez que, atualmente, um em cada três jovens nascidos em Portugal reside no estrangeiro.
Este fenómeno é impulsionado pelos salários baixos encontrados pela maioria dos jovens portugueses no mercado de trabalho nacional. Mais de 50 por cento deles recebe menos de 1.000 euros por mês. A dificuldade em adquirir uma habitação é também um fator determinante e faz com que, em muitos casos, os jovens portugueses adiem a constituição de família e a geração do primeiro filho para idades mais avançadas, o que coloca em causa a renovação geracional.
Estas causas têm originado uma série de consequências desastrosas. Uma das mais evidentes é a diminuição da quantidade de trabalhadores ativos em Portugal, responsáveis por contribuir para o sistema de Segurança Social. Este sistema, dependente das contribuições da população ativa, poderá enfrentar desafios financeiros e de sustentabilidade caso o problema demográfico em Portugal não se resolva nos próximos anos, colocando em causa o recebimento de reformas e pensões dos que são mais jovens nos dias de hoje.
Outras consequências incluem o envelhecimento populacional e o despovoamento do interior e das zonas rurais, decorrentes do êxodo jovem para áreas urbanas à procura de oportunidades. O aumento da procura por serviços de saúde, a solidão social, o envelhecimento da mão de obra e a diversificação das necessidades são também consequência do problema demográfico no nosso país.
Para fazer face a esta realidade, é crucial adotar abordagens estratégicas, como investir em políticas que incentivem o aumento da taxa de natalidade, promover condições para retenção de população nas áreas rurais e no interior do país, reforçar os sistemas de cuidados de saúde, criar programas sociais que combatam a solidão, e resolver os problemas da habitação e dos baixos rendimentos dos jovens que vivem no nosso país. O envelhecimento da população exige a implementação de medidas de saúde pública para garantir uma elevada qualidade de vida para os nossos idosos. Isso implica a criação e a promoção de programas específicos, como cuidados de saúde adaptados e a promoção de estilos de vida saudáveis. Além disso, é imperativo criar lares de acolhimento, centros de dia e projetos de acompanhamento, fornecendo o apoio adequado, especialmente para aqueles que não têm apoio familiar e estão sós.
A situação demográfica em Portugal apresenta desafios complexos. O atual desequilíbrio entre nascimentos e óbitos, aliado à emigração expressiva da população jovem, configura um cenário preocupante para o futuro do nosso país. Acredito que o tema demográfico foi negligenciado no debate político português e considero esta rubrica o maior desafio que Portugal enfrenta. Sinto que este tema se tornou um elefante na sala da política portuguesa, e ninguém quer falar dele.
A Iniciativa Liberal destaca frequentemente a emigração dos jovens como um problema, mas não aborda eficazmente políticas para incentivar o aumento da natalidade. O Chega, por sua vez, parece concentrar-se principalmente em angariar votos entre os mais velhos, promovendo políticas de reforma com ênfase no envelhecimento saudável, sem dar devida atenção à necessidade do aumento progressivo da juventude portuguesa. Em relação ao Bloco de Esquerda, temos o “caso do sobressalto da avó”, mas a verdade é que sobressaltada fica a nossa geração quando nos começamos a aperceber que podemos chegar à idade da avó da Mariana Mortágua e não teremos uma reforma para nos sustentar. Apesar de tudo, sei que resolver os problemas nas diversas áreas degradadas em Portugal irá ajudar a demografia portuguesa a recompor-se, mas penso que será preciso muito mais do que isso.
Pintura de capa por Vincent van Gogh
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