Tal como muitos jovens portugueses recentemente qualificados, encontro-me numa fase de vida desafiante: a procura do primeiro emprego naquela que foi a minha área de eleição. Como tal, decidi compilar algumas dicas e sugestões de como navegar este processo mantendo alguma sanidade mental.
- Mantém uma rotina
Se até aqui tínhamos uma rotina mais ou menos imposta, agora é bastante autónoma e autogerida, o que pode trazer algumas dificuldades de adaptação. Procura organizar o teu dia ou semana como se a procura de emprego fosse efetivamente o teu trabalho e define pequenos objetivos, pausas e tempo para lazer e descanso. Tal como não trabalharias, idealmente, fora de horas, procura não estar constante e freneticamente à procura de oportunidades em todo o lado e a toda a hora.
- Acredita que não precisas/mereces penar
A procura de emprego pode ser um processo bastante solitário e monótono, mas não tem de ser assim. Não precisas de ficar fechado em casa, sentado à secretária com o computador em frente a uma parede branca e aborrecida. Procura sair e até combinar com amigos e colegas irem para um café ou uma biblioteca. A partilha de experiências, emoções e ideias com outras pessoas que estão numa fase semelhante é uma ótima forma de não nos sentirmos tão sozinhos e perdidos. Quando estás em casa, podes procurar um espaço mais aberto e confortável e colocar uma música ou ‘podcast’ de fundo. Parece algo simples, mas pode ajudar-te a manteres-te mais motivado e criativo.
- Investe em ti
Diria que esta é talvez a fase de vida “ideal” para efetivamente investires em ti como até agora não houve oportunidade. Ler livros só por puro prazer, fazer aquele curso que já querias há uns tempos, dedicares-te a um passatempo que te apaixona e motiva, ver aquele filme que tens andado a adiar, fazer exercício de forma mais regular, começar a escrever um diário de conquistas, etc… Certamente tu melhor do que ninguém saberás aquilo que faz mais sentido retirar e acrescentar a esta lista de exemplos, mas acredita que dedicar tempo para ti é um investimento importante, tanto a curto como a longo prazo. Cada vez se valoriza mais aquilo que a ciência já nos tem mostrado há alguns anos: pessoas felizes e que cuidam da sua saúde, física e mental, são mais produtivas, criativas e motivadas. Em contrapartida, aquelas que colocam o seu trabalho acima de tudo e não procuram um equilíbrio entre os vários contextos de vida estão mais suscetíveis a problemáticas como o burnout.
- Aceita que há muitos fatores que não controlas
Procura fazer as pazes com o facto de que muitas das tuas candidaturas poderão não ter sequer uma resposta. E isto, talvez mais de 90 por cento das vezes, nada terá a ver com o teu currículo ou a tua carta de apresentação, ou com nenhum outro fator que poderia eventualmente estar ao teu alcance modificar. É importante perceber que alguns aspetos do processo de procura de emprego são controlados por ti e outros não, de forma a poderes dedicar-te àqueles em que efetivamente poderás ter algum tipo de efeito. As formas de candidatura e recrutamento são hoje muito diferentes daquilo que eram há 20 anos. Faz a tua pesquisa, explora e procura compreender qual a melhor forma de abordares o mercado de trabalho no qual te queres inserir, pois as recomendações poderão ser bastante distintas de área para área. Como vivemos na era da informação e das redes sociais, faz uso dos recursos que tens ao teu dispor para aumentares as tuas hipóteses de sucesso.
- Dá tempo ao tempo
No seguimento do ponto anterior, é também importante perceberes que este processo de procura do primeiro emprego pode levar o seu tempo. Procura adotar uma atitude e postura positivas, mas realistas, com expectativas alinhadas. Mais uma vez, existem muitos fatores que podem contribuir para que encontres um trabalho em mais ou menos tempo, e há vários que não dependem diretamente de ti: saturação do mercado de trabalho, instabilidade sociopolítica, pouca oferta de oportunidades na tua zona de residência, existência de poucos incentivos à contratação de jovens qualificados, etc…
- Não tenhas medo ou vergonha de pedir ajuda
Caso estejas a ter dificuldade em lidar com os desafios desta fase, não tenhas medo de pedir ajuda, inclusive profissional. Poderes desabafar com alguém sobre as tuas inseguranças e inquietações poderá ser bastante benéfico, além de útil para perceberes melhor aquilo que queres, gostas e como o alcançar. Existem ainda agências de recrutamento e de recursos humanos ou serviços vocacionais e de desenvolvimento de carreira que te poderão dar alguma orientação mais prática e concreta sobre oportunidades de emprego e formas de abordar o mercado de trabalho.
Por fim, queria acrescentar que não estás sozinho neste processo, e que, eventualmente, irá surgir o lugar para ti, desde que te mantenhas aberto e disponível a isso. Além de autoconhecimento e saber o que se quer ou não, é essencial ser flexível e adaptável. Esta fase de vida pode ser bastante frustrante, aborrecida e difícil, mas também estimulante e repleta de oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional.
Inês Fonseca
Pintura de capa por Frantisek Dvorak
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