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Começo este artigo a contar uma história que muitos deverão já conhecer, o mito de Sísifo. Homem que irritou os deuses (gregos) pelo seu perfil capaz e sapiente, castigado, após uma longa vida tendo enganado a morte, a um trabalho vazio e oco de carregar uma pedra até ao alto de uma montanha, onde, sempre que atingia o cume, pelo desgaste e cansaço sentido, deixava a pedra cair e retomava sucessivamente a mesma ação, para a eternidade.

Poderão agora questionar, mas onde é que vemos isto no dia de hoje? Albert Camus, um autor e filósofo francês, mostrou, num dos seus ensaios, como a analogia da pedra se aplica a tarefas contemporâneas, como as relações entre amigos, a futilidade das pessoas, a ausência de propósito e a sensação de inadequação nas diferentes esferas de vida.

Neste sentido, queria desenvolver este tópico na seguinte lógica: porquê? Porque é que vivemos a carregar tantos fardos desnecessários, ou seguimos continuamente vendados à realidade a perseguir ideais que se calhar nem são nossos? Questiono isto, não com o objetivo de criar uma crise existencial (apesar de, confesso, ter um pouco esse objetivo), mas para a reflexão e apropriação do que é realmente o eu. Vivemos numa sociedade que, apesar da evolução contemporânea, segue padrões antiquados. É necessário constituir uma vida com todas as questões a esta associada (i.e., casar, procriar, etc.), e suportar trabalhos precários ou manter uma profissão/emprego que nos deixa infelizes, ou aceitar entidades patronais desadequadas que logram dos trabalhadores, ou permanecer num quadro de burnout. Porque para muitos isso é apenas “necessidade de umas férias”, ou onde é necessário procurar obter domínio económico e desenvolver uma carreira por comparação ao outro, ou, em geral, onde devemos seguir as regras ocultas, mas pesadas que vigoram intemporalmente.

Não me querendo alongar, mas como refere o nome desta revista, reconheçam este padrão opressivo e sufocante que raramente valorizamos. Procurem perceber quais são os vossos objetivos e rejam-se pelas vossas próprias filosofias, e não aquelas que estão escondidas entre linhas. Percebam que se o vosso objetivo é viver segundo estes padrões, está tudo bem, mas também está tudo bem em não querer, em desejar dedicar uma vida a uma profissão, viver segundo uma religião, não querer casar, não querer estudar, desde que haja empatia e respeito. 

Por isto peço: não queiram sobreviver tendo uma oportunidade de viver e experimentar quando podem saborear e sentir cada momento, e alinhem-se aos vossos objetivos. Ninguém é superior ou inferior, ou tem mais valor do que outros, porque não existe uma pessoa neste mundo que não seja importante. 

Assim, termino retomando uma frase acima referida: “pelo desgaste e cansaço sentido, deixava a pedra cair e retomava sucessivamente a mesma ação”, porquê manter uma rotina, hábito, comportamento, o que for, quando podemos adotar uma postura e comportamento diferentes? Vivamos intensamente, com o objetivo único de viver, viver com o sentido de fazer, sonhar e seguir os nossos objetivos, de ignorar os comportamentos expectados pela sociedade, de saborear cada momento, porque a verdade é que a vida é um ápice e temos de a viver intensamente e não deixá-la escorregar entre os dedos e perder o controlo.

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