Estes momentos de campanhas eleitorais levam-nos a refletir sobre o certo e o errado. Da dualidade certo e errado, passamos rapidamente para a dualidade esquerda-direita, para a importância das questões sociais e da humanidade, e para o país “socialismo-dependente” que temos. O nível de auto-comiseração e pessimismo é tão elevado que parece que não interessa em quem se vote; mais vale votar nos mesmos, porque à direita são todos fascistas e a esquerda é incontestavelmente perfeita e a única defensora do povo.
Esta, pelo menos, era a opinião que eu tinha quando não analisava o que lia de forma mais crítica: à direita, apenas se apresentam medidas de defesa dos “ricos”, porque são os ricos (por exemplo) que apresentam propostas de diminuição de impostos/aumento de salários para que o trabalhador possa levar mais dinheiro para casa sem gastar uma fortuna numa empresa (realmente custa-me a entender estes pontos de vista, desde quando fixar o valor de um bem é mais proveitoso do que diminuir impostos e/ou aumentar salários para os trabalhadores terem mais poder de compra?).
No meu ponto de vista atual, à esquerda há uma maior tendência para ver os problemas sociais e humanos (sendo importante numa democracia parlamentar), à direita para ver os problemas sociais com resolução económica, associada ao ponto de vista financeiro, mas numa visão de crescimento, não de estagnação. Ora, este pensamento surgiu após me aperceber de algumas inconsistências do que acontece para o que é descrito, porque quem conta um ponto, acrescenta um ponto.
Infelizmente para nós, o bom jornalismo, aquele que é livre, está em extinção, e é por isso que vivemos num País pessimista e derrotista. Modelam a informação para o público continuar fechado, triste e pouco aberto a mudanças de paradigma. Um ciclo de compra e venda, em que os media sabem o que vai vender, e as pessoas leem aquilo que já acreditavam.
Um exemplo que para mim foi escabroso ocorreu na passada semana: os estudantes da Universidade Católica Portuguesa organizaram um evento com líderes partidários de vários partidos, para que os alunos tivessem um espaço para entrevistar e ouvir o que cada partido quer trazer à assembleia. Eis que surge o dia de André Ventura, que quer queiramos ou não, lidera um partido. Os jornalistas podiam fotografar/filmar e entrevistar à entrada, mas não entrar no evento em exercício de funções; regras essas que foram transmitidas a todos os líderes partidários. Como era um evento para alunos que requeria o preenchimento de formulário para entrar, nem se fez comunicado de imprensa, e nunca se pensou que teriam de lidar com jornalismo “anárquico”, que entra entre os membros da comitiva do Chega, enganando quem estava a controlar as entradas.
O jornalista sentou-se e começou a escrever, pediram que parasse educadamente (podendo ficar e assistir mesmo assim) sem sucesso. Uma iniciativa tão boa ficou manchada porque um jornalista recusou-se a sair, após recusar parar de executar funções, alega agressão, quando na verdade este agride o aluno, contando uma versão completamente distorcida a órgãos de comunicação social. Qual foi uma das manchetes? “Estudante que tirou à força jornalista é militante da iniciativa Liberal.”
Ora, o típico português ao ler isto vai tirar o sumo de:
– a direita, mesmo que teoricamente moderada, é agressiva;
– a direita é opressora da liberdade de expressão (quando o jornalista não devia ali estar, foi convidado a sair e recusou-se, sendo mais opressor que oprimido);
– o que anda a fazer a IL e o Chega? Não refere que é um evento organizado por estudantes, que entrevistou vários líderes partidários, porque, mesmo que não se concorde, todos têm direito à tão proclamada liberdade de expressão; as pessoas vão associar a instituição à extrema direita, assim como a IL.
Ao ler mais notícias que saíram eu iria também olhar com desdém, visto que é uma faculdade a dar palco a um líder parlamentar controverso e desrespeitoso, e muitas destas manchetes não referem que outros líderes partidários já estiveram presentes, o que mostra uma ignorância extrema quanto ao evento.
Este exemplo prova a podridão do jornalismo e dos grandes jornais. As influências por de trás do pano são gritantes, assim como a necessidade imensa de dar que falar e vender, tentam distorcer a informação e alimentar as pessoas com aquilo que lhes convém. É por não nos fazerem chegar a verdade que qualquer notícia que aparece vinda de grandes órgãos da média (alguns muito politicamente corretos) não me convencem: ou têm algum objetivo subentendido para distorcer a realidade, ou é uma realidade que lhes convém.
Pintura de capa por Luise Max-Ehrler
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