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Como jovem mulher questiono-me frequentemente se um dia gostaria de ser mãe. E a resposta a esta pequena grande pergunta, que encerra em si tantas outras, não tem sido fácil.

Primeiro, conseguirei lidar de forma positiva com a gravidez? Todo o processo, com todas as mudanças físicas e psicológicas que lhe estão associadas, exames médicos, etc., é algo que me parece verdadeiramente assustador. Este estado de graça não deve ser nada engraçado,já para não falar do parto em si. Isto partindo do pressuposto que tanto eu como a criança não teremos problemas de saúde maiores, o que pode sempre acontecer e parece nem entrar na equação de muita boa gente.

Segundo, será que quero mesmo trazer uma criança a este mundo? Alterações climáticas, guerras, pandemias, crises socioeconómicas umas a seguir às outras, instabilidade política, ódio e intolerância por todo o lado nas redes sociais, cada vez mais problemas de saúde mental, etc… Não fico muito entusiasmada com a ideia de que uma criança minha tenha de viver com tudo isto a acontecer à sua volta.

Terceiro, será que algum dia terei as condições para ter um filho? Cada vez me parece mais utópica a ideia de que um dia terei estabilidade económica, laboral, relacional e emocional para que me faça sentido e seja seguro ter um filho.

Quarto, conseguirei adquirir as competências necessárias para educar uma criança? Para mim, formar um ser humano é a tarefa mais difícil, complexa e exigente que alguma vez poderemos realizar. Por isso, há uma grande responsabilidade associada a ter um filho. E se eu não conseguir? E se eu não souber? E se eu cometer algum erro grave, por desconhecimento ou descuido? E se eu fizer tudo certo, e mesmo assim não for suficiente?

Por outro lado, quando vejo um miúdo fofo na rua ou no trabalho, penso automaticamente: será que não me vou arrepender, que não vou sentir que estou a perder uma parte muito importante da vida ao não experienciar a maternidade? Mas os motivos que me levam a pensar que até gostaria de ter um filho são, geralmente, um pouco egoístas e egocêntricos.

Agrada-me a ideia de ter uma família grande, belos almoços ao domingo, não envelhecer sozinha e sem ninguém para cuidar de mim. Além disso, fico genuinamente feliz quando vejo bebés a transformarem-se em crianças alegres e carinhosas, que, mais tarde, se tornam adolescentes conscientes e inteligentes, jovens esforçados e talentosos, adultos interessados e competentes. Isso faz-me questionar se também eu não gostaria de poder fazer parte deste bonito ciclo.

Cada vez mais a hipótese de adotar uma criança me faz mais sentido. Todos os argumentos “contra” que se prendem com a gravidez e o trazer mais um ser humano para este mundo assustador caem por terra. Ficam os dois últimos, que me parecem os mais desafiantes. Dizem também que o processo de adoção não é nada fácil, mas a ideia de dar mais oportunidades a uma criança de vingar na vida (entenda-se ser feliz) põe-me logo um sorriso na cara.

Ainda só tenho 23 anos, pelo que ainda me falta bastante tempo para continuar a interrogar-me com todas estas questões existenciais, mas são tão importantes. Para aqueles que podem achar que estou a complicar aquilo que é apenas o mais natural da vida: eu acho que vocês simplificam demasiado. A decisão de ter um filho nunca deve ser tomada de ânimo leve. Nunca. Porque se não for para amar, cuidar e apoiar incondicionalmente, mais vale não procriar.

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