Recentemente debati esta questão com pessoas próximas e percebi que por vezes não falamos sobre inteligência e no seu impacto na autoestima e autoconceito.
Gostaria de iniciar este texto pedindo que reflitam sobre a seguinte questão: “o que é a inteligência?”. Muitos podem responder que é a quantidade de conhecimentos que temos. Outros podem aferir que consiste em medidas estandardizadas, medidas avaliadas psicometricamente, como o Coeficiente de Inteligência (QI) dado por Weschler. Para outros, e confesso que esta é a minha versão preferida, respondem aquilo que o dicionário (no caso, o Priberam), e de forma interessante, descreve: “Conjunto de todas as faculdades intelectuais (memória, imaginação, juízo, raciocínio, abstração e conceção)”.
Deste modo, não existe uma verdade absoluta e consensual sobre a definição de inteligência, e, na minha opinião, medi-la é um erro crasso e que rotula, de forma radical, a capacidade das pessoas. Sendo um conceito de certa forma abstrato, não me abstenho de advogar pela teoria que mais me interessa: a Teoria de Inteligências Múltiplas de Gardner. Esta teoria apresenta um total de 8 tipos de inteligência que o ser humano pode desenvolver ao longo do seu ciclo vital, nomeadamente: lógico-matemática, linguística, espacial, musical, corporal-cinestésica, naturalista, intrapessoal e interpessoal (algumas atualizações incluem a inteligência existencial).
E claro, poderão questionar, uma pessoa inteligente é aquela que desenvolve as 8 integralmente? A resposta mais simples é “Não.”, Gardner, ao longo dos seus estudos e desenvolvimento na área da inteligência, começou por tentar seguir os modelos pré-existentes, utilizando a psicometria com o objetivo de medir QI’s, ao qual verificou um facto transversal à natureza humana: ninguém é igual a ninguém. O meu desempenho numa área, digamos lógico-matemática, nunca será igual à de um físico-quântico, por exemplo, mas isso não implica que este seja mais ou menos inteligente que eu, apenas tem um tipo de inteligência mais desenvolvido que eu. Assim, a (minha) resposta completa: todos somos inteligentes, pelo menos, num tipo de inteligência, seja ela qual for, porque todas elas apresentam ou dão-nos competências, qualidades e capacidades diferentes.
Assim, quero chegar ao meu objetivo final. Muitas vezes ao longo do meu percurso ouvi pessoas a dizer: “eu não sou inteligente, não consigo fazer isto” ou “eu não valho nada, nem consigo fazer isto”, e, perdoem-me a expressão de senso comum, “faz-me comichão”. Existe na literatura uma associação entre a autoestima e autoconceito ao nível da inteligência, muitas pessoas reduzem a sua autoestima e a sua visão de capacidade em determinados aspetos, face ao insucesso ou maiores dificuldades na realização de uma tarefa, desmotivando e criando uma espiral de autodepreciação.
Existe sempre também o fator de comparação, que na maioria das vezes em nada nos ajuda, mas pensemos em 2 coisas: 1.º ninguém é bom a tudo, e a dificuldade do outro pode ser a nossa facilidade e vice-versa, e 2.º existe um efeito chamado de Dunning-Kruger onde uma pessoa se apresenta mais inteligente e capaz do que realmente é num determinado tema, então, qual a necessidade da comparação, quando, na verdade, todos somos diferentes, únicos e inteligentes nos nossos próprios termos e capacidades (e prometo deixar a zona de desenvolvimento proximal para outra reflexão).
Deste modo, para finalizar, em vez de pensarem “eu não sou capaz de fazer” pensem: “eu não consigo, mas se treinar talvez consiga” ou “realmente não sou bom a nível de X tarefa, mas sou muito bom noutras”, em vez de acharmos que não somos inteligentes, procuremos encontrar e perceber as nossas capacidades e facilidades invés de nos julgarmos, e é preciso sermos meigos connosco e com os outros, porque algo que sempre vou apelar, desenvolvam a vossa inteligência interpessoal e intrapessoal, porque necessitamos dela para todos os contextos, diariamente.
Pintura de capa por Johannes Vermeer
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