Quantos já não ouviram com frequência as famosas frases: “São uns privilegiados”, “No meu tempo não havia nada disso”, “Os tempos estão tão diferentes”. De facto, a era digital trouxe consigo uma transformação profunda na maneira como acedemos à informação, garantindo que esta está ao alcance de todos e que constitui um direito fundamental, afetando até mesmo a forma como vivemos e governamos em democracia. É a partir da informação que adquirimos ferramentas que nos permitem tomar decisões fulcrais para o futuro do nosso país, decisões estas que se revelam estruturais para a nossa sociedade, no âmbito social, político, económico e até mesmo ambiental.
É impossível falar de informação sem falar de comunicação social, dado o papel importantíssimo que esta desempenha na disseminação da informação, consciencializando e mobilizando a população para questões globais. É através da comunicação social que tomamos conhecimento sobre as mais diversas questões, permitindo-nos não só o acesso à informação, mas também o escrutínio da classe política e empresarial do nosso país. A comunicação social assume-se como uma ferramenta essencial à democracia, que se deve manter imparcial, livre de notícias falsas e da desinformação, garantido uma disseminação cuidada e verdadeira da informação a toda a população. Depois dos jornais, das televisões e dos sites oficiais de notícias, o progresso
tecnológico trouxe-nos uma nova forma de divulgação de notícias e informações, as famosas redes sociais. São nestas redes sociais que nos deparamos diariamente com informações e notícias que muitas das vezes são dominadas por fações políticas ou pessoas singulares, que têm como principal objetivo se autopromover perante a comunidade, gerando a discórdia, promovendo o conflito, publicando apenas aquilo que lhe interessa, quando lhe interessa. Este perigo, associado à manipulação da informação, é o suficiente para que a verdade e a imparcialidade na redação da informação sejam postas em causa, influenciando a população e levando a que muita das vezes a escolha democrática seja posta em causa.
De facto, é comum vermos esta manipulação associada às tão faladas “fake news”, no entanto, manipular informação é muito mais do que inventar notícias falsas, manipular informação é também transmitir apenas o que se quer transmitir, mesmo que o façamos sem cometer qualquer ilegalidade. Afinal de contas publicamos o que queremos, porque felizmente somos livres para o fazer. Já dizia Simone de Beauvoir que “Querer ser livre é também querer livres os outros”, como tal, e na minha singela opinião, uma pessoa que se intitula administradora de uma página de notícias imparcial, deve ter a ética necessária para não colocar a sua liberdade à frente da liberdade dos seus leitores, permitindo, assim, que toda a informação esteja ao dispor de toda a comunidade.
Como é óbvio, não faço esta reflexão só porque me apetece, faço-o sim porque acredito na imparcialidade, porque acredito que todas as forças políticas devem ser livres para expressar a sua opinião, mostrando o seu trabalho perante a comunidade. O tempo do lápis azul terminou em 1974, não devemos nunca permitir que passados quase 50 anos surja um novo lápis laranja que autorize a informação que deve ou não estar ao dispor da população do nosso concelho.
O jornalismo é uma arte que deve ser sempre acompanhado pela ética, no entanto é uma arte que infelizmente não está ao alcance de qualquer um. Termino esta reflexão com uma citação do filósofo Antonio Gramsci, que afirmou “O jornalismo deve ser ensinado e não é racional deixar que o jornalista se forme por si mesmo”.
Pintura de capa por Honoré Daumier
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