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Dou-me conta que o silêncio se encontra envolto numa espécie de onda de mistério e secretismo, quase como se fosse matéria acerca da qual não se deve falar. Isso prolonga ainda mais o silêncio, transformando-o em fonte de conflitos, afastamentos, alargamento de espaços vazios e solidão.

O silêncio não é como um espaço em branco. Por exemplo, o que seria da música, sem o ritmo dos silêncios? Pelo contrário, quando utilizado de forma consciente, é uma excelente forma de comunicar com o outro. Assim, dependendo do contexto, pode significar medo, encantamento, afastamento ou aproximação.

Penso que nunca se está verdadeiramente em silêncio, porque não é possível silenciar a mente e a sua natural agitação. Nem sequer é possível escutar verdadeiramente em silêncio, porque a escuta envolve reflexão, e a reflexão não é silêncio. É por isso que o silêncio é um espaço potencial de crescimento individual e colectivo, com capacidade para fazer evoluir pessoas e comunidades. Aos atuais modelos de sociedade ocidental, faz falta este espaço potencial, sem internet, redes sociais, motores de pesquisa ou fluxos informativos constantes, que também são responsáveis pela sobrecarga emocional de que as pessoas são vítimas.

Entre as suas diferentes tipologias, existe uma forma de silêncio que aproxima as pessoas, porque é nesse espaço de crescimento, gerado através do silêncio, que se desenvolvem as fontes de inferência acerca daquilo que o outro é.

Para mim, o silêncio é uma excelente fonte de intimidade emocional entre as pessoas, uma vez que estar em silêncio tem simbologias próprias, de acordo com cada relação. Nos casos em que é instrumento de intimidade, pode até ser uma forma positiva, profunda e abrangente de se estar acompanhado.

É precisamente neste tipo de relação que se gera um silêncio que não se deve destruir, porque é quase como se fosse um código, que deve ser respeitado, uma vez que é construtivo e organizador. Este tipo de silêncio permite, por exemplo, adivinhar o significado implícito dos gestos ou de um olhar de alguém. Sei que em algumas relações o silêncio é contrangedor, principalmente quando não se sabe como quebrá-lo, ou quando ele representa uma ameaça.

É por isso que acredito que a melhor forma de quebrar o silêncio numa relação é falar sobre esse mesmo silêncio, questionando-se:

– Donde veio?

– Quando começou?

– Porque se mantém?

– O que poderá querer dizer?

– Que função desempenha nesta relação?

Assim se geram espaços de crescimento e diálogo, que se podem revelar fontes de crescimento individual. Desta forma, abrem-se novas vias de comunicação. O silêncio é uma matéria tão rica. Por isso nunca me canso de falar acerca do silêncio!

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