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Os meios materiais, tecnológicos, sociais, económicos, culturais, entre outros, encontram-se associados, por diversos estudos, a uma melhor qualidade de vida, encontrando-se os países nórdicos no topo do ranking. A organização participada, a cidadania ativa, os sonhos que passam a projetos, o pensamento associado à ação, a reivindicação atenta, luta envolvendo perseverança e/ou a geração de envolvimento da comunidade, parecem ser características presentes (em termos gerais e não esquecendo que cada pessoa tem a sua história) em indivíduos que vivem nestas zonas.

No entanto, demasiada concentração em tudo isto pode fazer (embora não necessariamente) com que um indivíduo não crie no seu círculo mais próximo as condições aparentemente mais simples para se ser feliz enquanto pessoa… Alguns têm altas taxas de suicídio.

É importante referir que a investigação científica (e também outras que não têm tal catalogação, mas que abrem vários horizontes) sobre o conceito de felicidade foca-se muito mais no prazer do gozo da vida, no tranquilo “aqui” e “agora”, em que os países da América Latina parecem ser, segundo os dados analisados, os campeões. Vários estudos sobre este conceito medem os diferentes graus através de perguntas como: “Sentiu-se descansado ontem?”, “Foi tratado com respeito ontem?”, “Sorriu muito ontem?”, “Aprendeu ou fez algo de interessante ontem?”, “Sentiu-se alegre e feliz ontem?”.

Daqui decorrentes, encontramos muitos conselhos, de facto, práticos que parecem emergir como soluções concretas e agradáveis: a referência e o elogio direto sem intenção de contrapartidas a pessoas ou coisas de que/quem gostamos e orgulhamos, que nos fazem divertir, suavizar ideias; definir objetivos, valorizar pontos positivos e diferentes que se sucederam; resolver de forma construtiva, criativa e simples problemas que se encontram no caminho, com os recursos que se tem à disposição, sem pensar nos que se gostaria de ter (retirando-lhes a carga de importância angustiante que lhes dá tanto peso, porventura, indevido); adotar hábitos de vida saudáveis; etc. No fundo, o foco principal parece estar, de forma concisa, na nossa esfera de controlo pessoal.

Eventualmente podem parecer, ou não, alternativas pouco consequentes a nível imediato enquanto resposta a grandes ou pequenas questões sociais e económica, mas o que é certo é que os estudos de qualidade de vida nem sempre medem, querem ou acham possível medir estas variáveis ligadas à felicidade. Isto pode fazer-nos compreender, em parte, por que razão normalmente os países do norte da Europa são apontados como tendo a melhor qualidade de vida e os países da América Latina como sendo os mais felizes.

Por esta altura, talvez tenhamos mais questões do que conclusões. Será que para sermos efetivamente felizes teremos que abandonar o sonho ou a luta de termos mais qualidade de vida e não perder a que ainda temos? A consequência de viver a nossa felicidade pessoal será forçosamente tornarmo-nos passivos, escondermo-nos, resignarmo-nos, desresponsabilizarmo-nos? Ou há mais opções?

Há que relembrar que indignarmo-nos, protestarmos, lutarmos, envergonharmos os responsáveis têm sido formas necessárias, talvez até justas, ao longo dos tempos, para atingir melhores condições gerais de vida para a nossa sociedade. A Revolução Francesa é prova de que o alcançar de um efetivo impacto social por estes meios é possível, embora à custa de muito sofrimento também.

Porém, dado que estas causas sociais tão abrangentes fogem, pelo menos em parte, à nossa esfera de controlo pessoal, acabam por gerar muitas vezes emoções negativas frequentse ou, quem sabe, permanentes. Então, se seguirmos este trilho, estaremos, na prática, a deitar fora nossa possibilidade de felicidade? Seguindo esta linha de raciocínio, talvez não valha a pena lutar por grandes mudanças sociais justas, se o que se quer mesmo é ser feliz? Isso que fique para os outros que não se importam de ser… infelizes?

Por outro lado, podemos achar que quem pensa assim talvez viva bem a fazer férias de luxo num resort rodeado de bairros de miséria, mas sejamos sinceros, será que a (in)consciência de “varrer para debaixo do tapete” permitirá a um ser humano ser efetivamente feliz? Ou será somente temporário, pois a nossa alma acaba por nos bater à porta, na forma de pesadelos, ansiedades, depressões, sintomas psicossomáticos, etc…?

Mas não estar na linha da frente da luta pelas grandes causas sociais pode não equivaler necessariamente a levar uma vida fútil, materialista ou consumista. Talvez não se deva confundir alienação, escapismo ou desresponsabilização com o direito da procura da felicidade, pois fugir ou evitar a dor não é seguramente o mesmo que estar tranquilo. Mas, também aqui, como distinguimoa fronteiras por vezes tão ténues? Ora, paradoxalmente (ou não), ao longo da História, figuras como Mahatma Ghandi, na Índia, ou Martim Luther King, nos Estados Unidos da América, provaram que as lutas por causas sociais se podem fazer de muitos modos com enorme impacto na sociedade, nomeadamente pela via pacífica, através da desobediência civil não violenta, baseada no argumento filosófico de que o cidadão só tem o dever moral de obedecer às leis, se os legisladores produzirem leis justas.

Ao contrário da desobediência comum ou de um mero ato de transgressão criminoso, a desobediência civil tem uma finalidade social, constituindo um ato inovador, de caráter eminentemente construtivo e não destruidor. Também aqui as fronteiras podem obviamente ser nublosas.

Concluindo, será que é inevitável termos que escolher entre ser felizes e ter qualidade de vida? É que parece tão difícil, quanto inevitável, conjugar, na prática, a qualidade de vida com a felicidade. Com um olhar pragmático, parece infelizmente impossível. Com um olhar utópico, parece, sem dúvida, o caminho correto a seguir. Qual é o equilíbrio afinal?

Como diziam os vencedores do Festival da Canção em Portugal de 2012, afinal “a luta é alegria”…

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