Vivemos na era da informação e somos bombardeados ao segundo com aquilo que se passa no mundo. Mundo esse em constante mudança e evolução, o que torna difícil manter-nos a par de tudo o que vai acontecendo (isto se quisermos viver uma vida minimamente saudável e equilibrada, pelo menos).
Acontece que, no meio disto tudo, por vezes sentimos a necessidade de ter uma opinião sobre assuntos muito complexos e sobre os quais sabemos muito pouco. Mas porquê? Por que motivo é tão difícil para o ser humano admitir que não sabe? Que não tem informação suficiente sobre determinado assunto para elaborar uma opinião com “pés e cabeça”? Será que é medo de reconhecer a nossa própria ignorância, ou de mostrar vulnerabilidade perante outros? Será que a liberdade de expressão faz com que valha tudo menos refletir, e então vomitamos primeiras impressões como se fossem verdades absolutas?
Para mim, ser humilde e ter consciência das nossas forças e fraquezas, dos limites das nossas competências, é sinal de grande inteligência, nunca do contrário.
Vivemos na era em que a Tudologia é a “ciência” mãe: todos sabem sobre tudo e são especialistas nas mais variadas áreas. Vemos muito isto em comentadores e apresentadores de televisão, por exemplo. Tanto discutem o vestido da Cristina Ferreira como a entrevista do Marcelo Rebelo de Sousa, a proposta do PCP ou uma guerra na face oposta do globo. E atenção, as pessoas podem e devem ter múltiplos interesses e procurar saber sobre a vida e aquilo que as rodeia. Mas chega a um ponto em que fica difícil de acreditar que efetivamente sabem do que estão a falar, apesar de (ou por causa de) o fazerem com toda a confiança do universo.
Um especialista a sério não sabe sobre tudo. Bem pelo contrário. Alguém com muita competência numa determinada área é geralmente a pessoa que reconhece as nuances, as exceções e ramificações, os dilemas, as perguntas infinitas que não têm resposta.
Acho que temos de começar a pensar mais e a falar menos. O trabalho deve ser primeiro interno e só depois externo. Aquilo que dizemos tem impacto. Somos responsáveis pelas nossas opiniões, e por isso há que expressá-las com a devida cautela. E mais do que isso: temos que começar a aceitar que é impossível ser especialista em tudo e que não vale a pena comentar só porque sim. É okay não dominar determinado assunto, está tudo bem em não ter uma opinião sobre e não contribuir para a discussão. Às vezes podemos ficar só a ouvir.
Mostrem-se flexíveis e disponíveis para aprender com o outro, estimulem o vosso sentido crítico. Como dizia um bom professor meu (esse sim, um verdadeiro especialista): não engulam sem mastigar.
Não querer ter uma opinião também é extremamente válido. Pesquisar sobre alguns tópicos e situações pode ser muito difícil e doloroso. Às vezes “não querer saber” o que se passa é uma forma de mantermos a saúde mental em dia. Porque não é fácil viver na era da informação e da Tudologia. Está tudo bem em sentirmo-nos confusos e cansados e em “escolher a ignorância” (essa enorme bênção).
Moral da história: por favor, não comentem assuntos complexos com leviandade. Porque o mundo não é preto ou branco, existe muito cinzento pelo meio. E cuidem de vocês e da vossa saúde. Não vale tudo em nome da informação e do conhecimento.
Inês Fonseca
Pintura de capa por David Teniers
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