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Numa sociedade em que uns parecem ter 48 horas por dia e outros apenas 12, as críticas e reclamações são muitas, mas qual será realmente o problema? Na realidade, as horas são as mesmas para todos, portanto vejamos isto de uma forma mais objetiva. O tempo de sono aconselhado são aproximadamente 8 horas, o que nos deixa com 16 horas por dia. Um aluno que passe em média 6 horas em aulas ou até um trabalhador que passe 8 horas no emprego ainda tem entre 8 a 10 horas para tudo o resto. E assim levanta-se outra questão: o que é tudo o resto? É nessas horas que está a diferença entre uma pessoa que diz não ter tempo e uma que efetivamente não terá mais tempo, mas que nunca chega a dizê-lo.

Para uns as 6 a 8 horas diárias não bastam, o tempo não é rentável e acabam por sacrificar mais uma ou duas horas por dia para compensar. Para outros, essas horas são mais do que suficientes, já perceberam como as rentabilizar e conseguiram manter o resto do dia disponível. Para uns, além das oito horas de sono ainda gastam mais umas duas horas por dia a “descansar” à frente de ecrãs e quem sabe uma sesta depois de almoço. Para esses, sem se aperceberem, as 8 a 10 horas que restavam começam a desaparecer e quando começa a anoitecer apercebem-se que não têm tempo. Mas quando confrontados com a ideia de que não conseguem fazer mais ou de que não são capazes de evoluir como gostariam, refugiam-se no típico “é a vida”, como se a vida se moldasse por si só e as nossas ações não importassem.

Pelo contrário, há quem tenha dias que nunca mais acabam. Desde que acordam o dia é focado no futuro, ainda que falte motivação a rotina mantém-se, pois nunca se sabe… o que pode não fazer muita diferença hoje pode ser crucial um dia. Estes pequenos esforços diários fazem com que efetivamente estas pessoas não tenham tempo livre, de entre tudo o que conseguiram fazer em apenas 16 horas o tempo de descanso começa a parecer pouco… mas se perguntarmos nunca dirão que não têm tempo, já se habituaram a fazer tempo para tudo, nem que deixem de ter tempo para eles. O “é a vida” ganha outro sentido, não é sobre a vida que se molda, mas sim sobre a necessidade de nos fazermos à vida e mais do que ter, ser algo mais. Contudo, será este o ideal do dia a dia de um ser humano? Será que viver numa permanente organização e ter a vida calendarizada não nos tirará coisas tão ou mais importantes como a espontaneidade e a vivência em comunidade?

Numa sociedade em que uns se entregam à procrastinação e deixam a vida passar sem pressas ou sem a tentar moldar e em que outros correm contra o tempo, como se estivessem sempre atrás do amanhã e fazem de tudo para escolher a vida que vão ter, mesmo que por vezes se esqueçam da vida que têm, afinal nunca se sabe…podemos estar a correr para um amanhã que nunca chegará… Haverá um meio termo ideal? Poderemos dizer que “é a vida”? Ou talvez cada um lhe dê o seu significado e a expressão não sirva para mais do que uma desculpa.

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