Dando seguimento ao meu último artigo intitulado “O tempo da Depressão”, convido os leitores para que me acompanhem numa pequena reflexão acerca das emoções, com especial enfoque na forma como contribuem para a uniformização e unificação da nossa Identidade.
As emoções não são visíveis a olho nu, não se podem cheirar, tocar ou ouvir. Curiosamente, por vezes também não se podem sentir, actuando de forma silenciosa. Contudo, apesar de passarem tantas vezes despercebidas, são peças fundamentais no que diz respeito à sobrevivência e adaptabilidade do Ser Humano.
São um produto resultante da evolução da Espécie, e como resultam de um processo de aperfeiçoamento que existe há milhões de anos, são altamente desenvolvidas, diferenciadas e especializadas em matéria de sobrevivência.
Por isso, não podemos deixar de ser influenciados por elas. Por exemplo, as emoções podem potenciar os comportamentos de natureza cooperativa e solidária, ou por outro lado, os comportamentos de natureza agressiva que são tantas vezes responsáveis pelos conflitos entre as pessoas.
As emoções são aspectos essenciais na relação que temos com aquilo que nos rodeia, assim como na perceção que temos da passagem do Tempo.
Por exemplo, o Tempo parece expandir quando as emoções associadas são de natureza desagradável, como naquelas tarefas que se têm de executar por obrigação.
Por outro lado, as emoções também são fenómenos dependentes da dimensão temporal. Por exemplo, facilmente se fica activado emocionalmente apenas com a simples recordação de determinados acontecimentos, e a maioria dos comportamentos que levados a cabo, são influenciados pelas emoções, como por exemplo fugir de um animal do qual se tem medo, ou sentir repulsa quando se está perante algo nojento.
As emoções afectam também a forma como memorizamos as coisas, uma vez que memorizamos essencialmente os acontecimentos que nos activam emocionalmente de forma mais poderosa. É o que acontece, por exemplo, no caso das patologias como o Stress Pós-traumático, em que a simples recordação de um evento, desencadeia uma activação emocional e comportamental que foge ao controlo consciente.
É por isso que as memórias normalmente estão registadas juntamente com as emoções correspondentes, funcionando assim como uma espécie de arquivo emocional da história de cada um.
Se quisermos comparar, é como se alguém olhasse para uma fotografia e conseguisse ouvir os sons ou sentir os cheiros associados ao momento retratado.
As reacções emocionais estão assim associadas a todos os aspectos da vida, exercendo influência sobre os comportamentos e determinando a percepção que cada um constrói acerca da realidade.
São como pedaços do tempo, e são dotadas de multidimensionalidade temporal, isto é, podemos activar as emoções com recordações do passado, vivências do presente ou expectativas acerca do futuro.
Este processo é fascinante, e é assim que se explica como através das memórias e das emoções que lhes correspondem, a forma como cada um perceciona o tempo presente é influenciada pelo passado. É isto que acontece, por exemplo, quando alguém se recorda de uma pessoa que perdeu.
Mas a relação das emoções com a passagem do tempo não termina aqui.
Também estão associadas ao momento presente, podendo condicionar e ser condicionadas pela perspectiva individual acerca do futuro, ou seja, aquilo que me activa emocionalmente agora, interfere na minha projecção acerca daquilo que pode vir a acontecer. É o que acontece, por exemplo, no caso da ansiedade.
Assim sendo, as emoções fazem parte do continuum Passado-Presente-Futuro, não sendo aspectos desvalorizáveis das experiências de cada um, uma vez que são elas que permitem colocar o passado em perspectiva, vivenciar o presente de forma equilibrada e projectar um futuro que não seja causador de angústia.
Ou seja, as emoções são determinantes na construção da identidade individual e são elas o elo de ligação que unifica e dá sentido à colecção de memórias gigante que permite a cada um elaborar uma narrativa acerca da sua vida.
É por isso que, para além de tudo o que referi, são também um recurso valioso para a Saúde Mental, e não uma coisa sem importância.
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