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O tempo é uma das 4 dimensões do Universo. Fazendo uso desta dimensão consegue-se, por exemplo, localizar um determinado acontecimento numa hora específica, e dessa forma situá-lo num continuum passado-presente-futuro.

Como é que o tempo pode influenciar a nossa vida?

A percepção da passagem do tempo é um elemento fundamental na construção das narrativas individuais acerca de si mesmo. É essa percepção que torna possível, por exemplo, definir um evento específico como determinante na alteração de outros acontecimentos.

A percepção do tempo e da sua passagem é subjectiva, o que significa desde logo que podem existir múltiplas versões acerca da mesma coisa, estando isso dependente dos condicionantes de natureza emocional de cada observador. É por isso que 60 minutos não são percepcionados de igual modo numa reunião aborrecida ou num jantar de amigos.

Ao contrário de outras coisas, como os sons, os cheiros, as texturas ou as cores, não existe um sentido específico que permita percepcionar a passagem do tempo. Nesse caso faz-se uso da atenção e é basicamente essa uma das razões pelas quais se tem a ilusão que o tempo parece acelerar ou desacelerar. Por exemplo, quando se está envolvido em algo que se gosta, não se dá atenção à passagem do tempo, e por isso parece que passou mais rápido.

Por outro lado, quando não se gosta do que se faz, dá-se mais atenção à passagem do tempo (nomeadamente quanto tempo falta para acabar) e por isso parece nunca mais acabar.

É aqui que entram em acção as emoções, o que faz com que se dê mais atenção à passagem do tempo quando se sentem coisas desagradáveis. 

É por isso que acredito existir uma ligação profunda entre Tempo, Emoções e Depressão, que faz com que as narrativas individuais das pessoas deprimidas incluam percepções de um sofrimento que parece não ter princípio nem fim. 

Quando as pessoas estão deprimidas, o tempo parece prolongar-se indefinidamente, fazendo com que as horas e os dias sejam mais longos e penosos, o que acaba por determinar a percepção que os dias demoram mais tempo a passar. 

Esta ilusão de que o tempo desacelerou, tem também consequências psicofisiológicas, ampliando a magnitude dos sentimentos negativos. É isso que leva as pessoas deprimidas a verbalizar que parece que estiveram sempre assim. 

Desta forma, também as suas expectativas acerca do futuro ficam condicionadas. Isto acontece em virtude de avaliarem os acontecimentos de forma tendencialmente pessimista, acabando assim por sentirem ansiedade em relação ao futuro, o que faz com que ampliem subjectivamente a quantidade de tempo que sofreram com a situação. É como se sofressem no passado, presente e futuro. 

É muito fácil de comprovar o que digo: 

– Imagine que desce uma montanha apreciando uma paisagem agradável. Como não dá atenção ao tempo, fica com a ilusão que o tempo passou rápido. Pelo contrário se descer a mesma montanha num carro descontrolado e sem travões, a viagem vai-lhe parecer interminável.

É por isso que na depressão, as pessoas parecem vivenciar os acontecimentos negativos com maior intensidade e duração no tempo. E já agora, isto não são coisas da sua cabeça, como tantos afirmam. São mecanismos de processamento cognitivo, fortemente mediados por factores de natureza emocional fisiológica, que fogem ao controlo consciente.

Por exemplo, se gostou de ler este texto, vai parecer que o leu rápido. Se pelo contrário não gostou, provavelmente pareceu-lhe nunca mais acabar.

Assim é o tempo da depressão.

Um comentário a “O tempo da Depressão”

  1. […] seguimento ao meu último artigo intitulado “O tempo da Depressão”, convido os leitores para que me acompanhem numa pequena reflexão acerca das emoções, com […]

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