Nunca Afinal Soube Que Eras Tanto

Todos procuramos uma “direção”. Todos os dias caminhamos em diversas direções, tomando decisões, rompendo ilusões, em busca de algo: um trabalho, um parceiro, um sonho, mas acima de tudo, em busca de nós mesmos.

Tempo de leitura: 5 minutos

Trago boas novas. Trago saudades de escrever. É difícil sair do adormecer quando se tem medo do amanhecer. Talvez seja receio de saber ou também de te ver. Não sei se será tudo isto ou se será nada disto. Mas, agora, sei pelo menos que é sentido.

“Direção” é a palavra do mês anterior, do mês presente e do mês seguinte. A palavra foi ideia, foi procura e foi caminho. Foi-se materializando em algo que vai para além do que é a palavra e o seu significado. “Direção” é presente e futuro, tendo esta já deixado o passado. 

Maria Café lança o seu EP de estreia – Direção. Caro leitor, se este é o teu primeiro minuto em que me lês, perdoa-me desde já esta espécie de ode que faço à palavra. A palavra ganhou novos contornos desde o momento em que se tornou o símbolo do nosso amor, esforço e dedicação. Caso seja este o teu primeiro minuto e dez segundos em que me lês, talvez tenhas percebido o principal tema deste ensaio, mas caso ainda não tenhas percebido, o que eu exponho aqui, para além de mim, é a minha paixão pela música. 

Tenho receio de te ver, porque cada vez que te vejo, receio que seja a última. Mas ao mesmo tempo, sei que se não te vir, dou em louco. Tenho a certeza de que preciso tanto de te deixar como preciso de te ver. A ti música, que me dás a ousadia de sonhar e que me tiras a vontade de viver. A ti música que me fazes levantar, apenas para mais tarde me fazeres sofrer. 

Todos procuramos uma “direção”. Todos os dias caminhamos em diversas direções, tomando decisões, rompendo ilusões, em busca de algo: um trabalho, um parceiro, um sonho, mas acima de tudo, em busca de nós mesmos. Estima-se que Fernando Pessoa tenha tido dezenas, senão centenas de heterónimos. Um poeta que se desdobrou em tantos outros, na procura de si mesmo. Apenas procurou uma direção, tal como todos nós. Mas enquanto a alguns lhes é apontado o caminho, outros têm de o construir. 

Sorte. A sorte é um tema tabu para algumas pessoas. “Eu construo a minha própria sorte”, talvez já tenham ouvido isto ao longo das vossas vidas. Posso jurar que já o ouvi milhares de vezes e posso jurar que acreditei centenas, senão milhares de vezes também. Mas, hoje, esteja magoado ou desmotivado ou simplesmente acordado, tenho a plena certeza de que quem inventou a palavra sorte, soube muito bem o que estava a fazer. A sorte é sorte, porque aparece do nada, porque nos cai no colo e apenas o que temos de fazer é agarrá-la com todas as forças.

Não pensem que a minha direção é em caminho da sorte. Nada disso! A sorte faz parte do caminho. A sorte é uma paragem de autocarro, uma estação de serviço, um ombro amigo. A nossa direção está ao virar da esquina, apenas precisa que a vizinha “sorte” desça do prédio e diga “olhem meninos é por ali o caminho”. 

Pelo que tenho entendido e recolhido nos últimos tempos, existem pessoas que não têm capacidade para imaginar ou visualizar. Junto visualizar à equação, uma vez que pode ser mais facilmente entendido para algumas pessoas. Existem pessoas que se pedirem que fechem os olhos e imaginem algo, uma praia, um campo verdejante, uma montanha distante, apenas vos dirão que não conseguem ver nada. Veem preto, veem vazio. 

Felizmente ou infelizmente, eu não sou uma dessas pessoas, mas por vezes, gostava de o ser. Passo a vida a sonhar acordado, mas com os pés bem cravados nos sapatos. Imagino cenários, visualizo-os diante dos meus olhos. Construo histórias, imagino planos, conversas, momentos. Tudo isto ajuda bastante a minha profissão de “mestre” das câmaras, claro, mas,  ao mesmo tempo, esta capacidade que tanto me eleva é a mesma que tanto me enterra.

A verdade é que a “direção” saiu, mas ainda não apareceu a tal estação, o tal ombro amigo, o tal “push” que nos diga “venham por aqui, eu ajudo”. A minha imaginação permite-me ver mais além, permite-me ver um mundo de possibilidades, permite-me ver outros mundos até, mundos esses que pretendo alcançar.

Por isso, a ti, música, minha musa, deixo os versos que não escrevi, mas que noite após noite, volto para sentir.

 “Nunca afinal eu soube

que eras tanto

nem que vinhas de noite e eras tempo

Por isso te pergunto

já sem esperança

O que hei-de fazer

com um coração aceso?”

Poema de Maria Teresa Horta

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Ricardo Neto, 26 anos. Natural de Amiais de Baixo, Santarém, reside atualmente em Aveiro, sendo o vocalista dos Maria Café, uma banda da região. Lançou também o seu primeiro projeto a solo “Conforto Desconfortável”.

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