A escassas semanas das Eleições Legislativas, ocorre-me uma reflexão sobre o ato de ir votar. No seguimento do livro que estou a ler, parece-me que há um gravíssimo erro de discurso, tanto à Esquerda e Esquerda Radical, como à Direita e Direita Radical – O erro de quererem o mesmo, apenas utilizando formas diferentes.
Ambos querem o poder. Ambos querem controlar a narrativa. Ambos querem decidir os caminhos de um povo.
Da parte da Esquerda (começo pela Esquerda por uma questão de igualar com a ordem de leitura, da esquerda para a direita), o ataque às desigualdades sociais é verdadeiramente utópico, ao mesmo tempo que a centralização do poder não contribui em nada para o desenvolvimento do indivíduo e, consequentemente, o desenvolvimento da sociedade. O ataque aos ricos (economicamente), é do mais absurdo que há, como argumento para chegar ao poder.
O indivíduo Humano é todo diferente em si, na sua existência. Todos vimos do mesmo antepassado, mas todos vimos de origens geográficas diferentes. Todos vimos com características físicas diferentes, de meios sociais diferentes e com formas de estar e pensar diferentes. Embora haja padrões comportamentais, sociais e genéticos, não há dois indivíduos iguais. Consequentemente, falar de igualdade social como um valor moral supremo é, não apenas intelectualmente desonesto, como mostra uma ignorância severa ao nível da história da Humanidade, Antropologia e Sociologia. A igualdade social é uma utopia. Quem disser o contrário está a mentir. Ainda que possa argumentar, claro.
No que diz respeito ao ataque aos ricos: por que é que os ricos têm de dar uma parte da sua riqueza aos não ricos? Qual o problema de existirem ricos (se a sua riqueza não tiver sido construída à base de trabalho escravo)? O sistema social não melhora com uma solução Robin dos Bosques. O sistema social melhora com a melhor capacitação daqueles não tiveram a sorte de uma lotaria social que lhes seja favorável, à nascença. Ninguém escolhe onde nasce, em que família nasce e em que condições financeiras nasce. No entanto, há formas variadas de, em política, ajudar o indivíduo (sempre em vista a que este seja autossuficiente nessa busca) a cultivar-se e a encontrar o seu melhor caminho.
É nisto que as políticas sociais se deveriam concentrar, se realmente quisessem o “bem comum”, e não em tornar as pessoas “iguais”. É incentivar as pessoas, em comunidade, em trabalharem em prol uns dos outros para se ajudarem a ser autossustentáveis. Esse é que, quanto a mim, seria o mais sensato trabalho de coesão social. Não como um fim em si, mas como uma ajuda mútua no crescimento individual. Aquilo que me parece mais sensato não é a procura da igualdade social, mas sim de um sistema de obtenção de recursos que permita ao indivíduo satisfazer as suas necessidades primárias (alimentação, “teto para dormir”). Nenhum indivíduo nasce igual ao outro e, por isso mesmo, defendo intrinsecamente que a busca pela igualdade é uma utopia.
Do lado da Direita, considerar errado tudo o que se desvia de uma suposta ordem divina é uma ótima ilusão para tentar comprar poder. Quem disse, afirmou e bateu o martelo, pela existência de uma ordem superior? Quem é, sequer, o indivíduo que poderá falar em nome de um qualquer Deus, para definir aquilo que são os caminhos do indivíduo e, consequentemente, da sociedade? Quem define que o indivíduo com cor de pele preta é “menos humano” ou de “casta inferior” que o indivíduo de cor de pele branca? Quem define que o indivíduo que se quer relacionar sexual e amorosamente com pessoas do mesmo sexo, é “menos humano” ou de “casta inferior” que o individuo que se quer relacionar sexual e amorosamente com outro, do sexo oposto? Deus? Novamente, quem ousa falar em nome de Deus? Quem é ou quem são os indivíduos que decidem quais as características dos indivíduos que prevalecem em nome de uma qualquer moralidade superior? A arrogância de superioridade moral e divina pela “tribo da direita radical” é de tal ordem que não entendem o quão ignorantes são (tal como a Esquerda), no que respeita à história da humanidade.
Já para não falar deste discurso doentio sobre a pureza do ser e da alma, travestido em discurso em nome dos outros que são feios, maus e porcos. Aqui, na nossa tribo, não há feios, nem maus, nem porcos. Somos todos altruístas, pacíficos, “cheirosinhos”. É isso que está à vista? Querem enganar quem? Tudo aquilo que se faz em política, é em nome do poder. Aqueles que forem mais afoitos na sede de tentar entender estas dinâmicas, através do livro História do Trabalho (por Jan Lucassen), facilmente vão entender o que é o tribalismo, o conceito de propriedade privada, os conceitos de Estado, redistribuição, impostos, feudalismo, capitalismo e mais um “cem número” de conceitos. No entanto, este livro não chega. É preciso, fundamentalmente, querer saber mais, querer saber como, querer saber o porquê e, acima de tudo, querer sair da tribo e usar a principal ferramenta na ajuda a uma sociedade melhor (seja lá isso o que for): o intelecto.
Posto isto, parece-me pertinente afirmar que, a escassas semanas das eleições, existe um embate cada vez mais feroz entre dois irmãos gémeos separados à nascença, que se agridem mutuamente, esquecendo-se, contudo, de que são mais iguais do que diferentes.