Fatores Psicológicos de Gerações nos Desafios do Mundo do Trabalho

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A realização no trabalho está intrinsecamente ligada à saúde mental. Quando nos sentimos valorizados, motivados, reconhecidos e temos um senso de propósito, a nossa saúde mental é fortalecida e a nossa satisfação no trabalho aumenta. “Martin Seligman”

Porque estão os jovens a deixar o trabalho para segundo plano? Os tempos mudaram, mas estarão as empresas preparadas para ir ao encontro das pretensões destas novas gerações? A ambição, um desejo intrínseco de alcançar metas e objetivos significativos na vida, é influenciada por diversos fatores, como a idade, condições económicas e contextos sociais. Ao longo das gerações, podemos identificar diferenças nas prioridades e aspirações dos indivíduos associados a fatores de bem-estar Psicológico. Os baby boomers, por exemplo, valorizaram a segurança no emprego, a estabilidade financeira e a mobilidade ascendente. Para estes, sustentar a família e garantir uma boa reserva financeira para a aposentadoria/reforma eram metas capitais. Já a Geração X destacou-se pela procura de independência e autossuficiência, valorizando o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, e demonstrando menos inclinação para carreiras tradicionais. Os millennials, por sua vez, foram frequentemente descritos como ambiciosos e motivados, com um desejo de causar impacto positivo no mundo. Esta geração priorizou trabalhos alinhados com os seus valores sem hesitar em mudar de emprego quando a insatisfação surge ou se sentem subvalorizados. A geração Z, que cresceu num contexto de progressos tecnológicos, está atualmente a chegar ao mercado de trabalho e demonstra preferência pelo empreendedorismo, além de valorizar a diversidade e a justiça social. Eles são motivados pela oportunidade de fazer a diferença e causar impacto positivo na sociedade. Já a geração Alpha ainda é uma incógnita em relação às suas aspirações e ambições. No entanto, a pandemia veio interromper o curso natural das coisas, fazendo-nos questionar o significado da ambição. O mundo parou, fomos forçados a ficar em casa e deparamo-nos com uma nova perspetiva. Percebemos que trabalhar incessantemente nem sempre resulta em recompensas adequadas. Descobrimos que ter dinheiro e status não é suficiente; é importante ter tempo para desfrutar da vida e dedicar-se ao que realmente nos faz felizes. Essa nova compreensão tem influenciado a nossa visão sobre a ambição. No entanto, à medida que as pessoas voltam aos escritórios, muitas se deparam de forma recorrente com excesso de trabalho, falta de motivação e falta de valorização. Quando os esforços não são devidamente reconhecidos, não há razão para explorar mais. Surge, então, a reflexão sobre o que realmente ambicionamos. É o salário? Espaços de lazer no ambiente de trabalho? A possibilidade de trabalhar remotamente? Flexibilidade de horário? Saúde mental?

A pandemia desencadeou uma ampla gama de possibilidades e tendências em todo o mundo. Um exemplo disso é o fenómeno do “quiet quitting”, em que as pessoas se limitam a fazer o mínimo necessário durante as oito horas de trabalho. Na China, surgiu o movimento “lying flat”, no qual os jovens, cansados de longas jornadas de trabalho, desafiam as normas sociais ao rejeitar a cultura tradicional de trabalho árduo e vislumbrar o trabalho apenas como uma fonte de rendimento. Por que, então, os jovens estão a colocar o trabalho em segundo plano?

E qual o impacto desses fenómenos nas economias globais? As 40 horas semanais são o padrão desde o final do século XIX, mas muitos consideram esse modelo obsoleto, principalmente na Europa. Como resultado, surgiram testes sobre a adoção da semana de trabalho de quatro dias. Estaremos a testemunhar o início de uma nova revolução? Os tempos mudaram, mas as empresas e as organizações estatais estão preparadas para atender às ambições dessas novas gerações? A resposta a todas essas perguntas chegará, mais cedo ou mais tarde, mas fica claro que aqueles que começarem a ouvir os seus trabalhadores, tanto os atuais quanto os potenciais, serão os vencedores nessa nova era. Como disse a psicóloga Carol Dweck, “Ouvir as necessidades dos outros é considerar com atenção os sinais e manifestações sobre as suas experiências, as suas satisfações e as suas objeções”. Ouvir e compreender as aspirações das novas gerações é fundamental para construir ambientes de trabalho mais saudáveis e estimulantes. Além disso, é importante mencionar que a busca pela felicidade e satisfação no trabalho não é apenas uma preocupação dos jovens. Estudos estatísticos realizados em Portugal e na Europa revelam que altos níveis de satisfação no trabalho estão associados a maior produtividade e saúde e bem-estar geral. De acordo com a teoria da autodeterminação proposta por Edward L. Deci e Richard M. Ryan, a satisfação no trabalho está ligada à sensação de autonomia, competência e conexão social. Dados estatísticos mostram que, na Europa, países como a Noruega e a Suécia apresentam altos índices de satisfação no trabalho, com políticas que promovem a conciliação entre vida pessoal e profissional, horários flexíveis e maior participação dos trabalhadores nas decisões organizacionais. Em contraste, países com maior carga horária semanal, como a Grécia e Portugal, apresentam níveis mais baixos de satisfação no trabalho. Em suma, compreender as ambições das novas gerações e criar condições de trabalho que atendam às suas necessidades é um desafio crucial para as empresas. A felicidade e a realização no trabalho estão intrinsecamente ligadas à motivação, produtividade e bem-estar dos indivíduos. Portanto, é fundamental que as organizações se adaptem às mudanças sociais e económicas, promovendo um ambiente de trabalho saudável, equilibrado e satisfatório para todas as gerações. Já que, segundo a OMS, “a saúde mental é um recurso humano fundamental para a realização pessoal, a comunhão social e o desempenho e eficiência no trabalho.”, vencerão aqueles que começarem a escutar os trabalhadores: os seus e os que querem recrutar.

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