“Ground Control to Major Tom”

"'Commencing countdown, engines on'. Em 1969, David Bowie lançou Space Oddity, uma canção sobre um astronauta, de nome Major Tom, que experiencia uma quebra de ligação à Terra, enquanto está na sua missão espacial. [...] Eu tive uma experiência do género."

Tempo de leitura: 4 minutos

“Commencing countdown, engines on”. Em 1969, David Bowie lançou Space Oddity, uma canção sobre um astronauta, de nome Major Tom, que experiencia uma quebra de ligação à Terra, enquanto está na sua missão espacial.

Não sei por que razão pensei nesta canção, até porque não faz parte do meu repertório musical. Nem do meu dia a dia. Nem do meu bem ou mal-estar. Contudo, talvez tenha sido o mal-estar ou simplesmente o andar por aqui, só porque sim – em piloto automático – que me levou até à Space Oddity.

A história é uma metáfora para o isolamento, para a alienação e para a experiência humana, no que diz respeito ao desconhecido. Eu tive uma experiência do género. Lancei o meu primeiro EP: Conforto Desconfortável. Penso ter abordado este assunto no meu último artigo. Tive essa experiência pela primeira vez e foi tudo aquilo que eu tinha em mente. Ela veio e já foi. Agora, penso estar como Major Tom, isolado, alienado nos meus próprios pensamentos, inseguranças, sonhos e em toda a experiência que tive, que me ajudou a perceber que não faz mal ir à lua de vez em quando, muito pelo contrário.

O EP teve como single “Conforto Desconfortável”, canção que dá nome ao projeto. O meu primeiro projeto a solo como cantor ou cantautor – se é que já me posso autointitular dessa forma. O single saiu e as críticas foram, sobretudo, positivas, refletidas e, curiosamente, preocupadas. Não vou esconder que este projeto sou eu: um conjunto de pequenas galáxias flutuantes, galáxias que contêm milhões de planetas e satélites naturais que fazem de mim quem sou.

Muitos levaram as letras das minhas canções à letra, mas quem vê caras não vê corações, pois nem tudo o que parece é! Ou então é, e apenas utilizo este provérbio para vos atirar areia para os olhos. Não sei. Sei, sim, que o meu amor, o meu medo, receios, ilusões e desilusões, carinho e felicidade, estão e viverão para sempre nas palavras que escrevo e canto.

Expus-me, porventura, mas não será essa a única forma de irmos mais longe hoje em dia? Qual é a forma secreta para vingar, chegar, ficar? Expus-me e logo de seguida fugi. Até daqui – de mim – fugi. Entrei em piloto automático. Entrei no foguetão e ainda não tive tempo de lá sair. A não ser agora, que parei aqui perto de Saturno para tomar um café açucarado.

Talvez tenha sido a minha forma de me esconder um pouco, de sossegar no fim de tanto dizer e cantar. Fiz o meu trabalho e esperei. Não sentado; não de braços cruzados. Fiz a minha parte, claro, e nunca sozinho. Mas penso que não foi suficiente. Ou então, a oportunidade está ali ao virar do próximo planeta, talvez sim, esteja perto, mesmo que sinta que esteja cada vez mais longe.

Não vou mentir. Soube muito bem o feedback dos primeiros tempos em que as músicas saíram. Mas, infelizmente, vivemos numa sociedade híper mega consumista, que precisa de mais e mais para sobreviver. Apercebi-me disto um destes dias ao deambular perto do jardim de minha casa, onde os jacarandás começaram a perder as flores. Ao pisar as flores, não pude deixar de sentir pena. Lembramo-nos deles na altura em que estão cobertos de azul e roxo, de flores e fragrância que encantam as ruas da cidade. Mas, ao longo do ano, quando não passam de troncos agarrados a ramos, esquecemo-nos da sua beleza e da sua importância. Por outras palavras, nem sequer olhamos, e muito menos os vemos.

Quatro músicas chegam para abrir o apetite, mas não matam a fome. Muito menos a mim: a minha fome cresceu como um buraco negro. Agora não largo a guitarra, a caneta e o papel. Não saio do foguetão, porque só ele me pode levar, só ele me ajuda a sonhar e a pensar além dos meus pensamentos.

E agora? Simplesmente não sei. Talvez ali perto de Úrano ou, quem sabe, Neptuno, encontrarei a minha resposta. Mas daqui não saio. Pelo que me disseram, este navio espacial tem combustível para me levar até ao fim do universo. E como o universo é infinito…

Obrigado, Major Tom.

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O meu nome é Ricardo Oliveira Neto e tenho 24 anos. Sou mestre em Comunicação Multimédia Audiovisual, tendo terminado o meu curso em 2023 na Universidade de Aveiro.

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