Harry Billinge, veterano de guerra nativo do Reino Unido, morreu em abril do ano passado com 96 anos. Nascido em 1925, estava-lhe destinado lutar na Normandia a 6 de junho de 1944. Com apenas 18 anos. De 44 soldados da sua unidade, apenas Harry e mais 3 regressaram a casa. Numa entrevista à BBC, em 2019, foi chamado de herói, ao qual respondeu sem qualquer hesitação: “Eu não sou nenhum herói, eu tive sorte, eu estou aqui. Todos os heróis estão mortos e eu nunca os esquecerei.”
Não, Sr. Harry. O Sr. também foi um herói. Nas suas palavras: a sua geração salvou o mundo. O grande problema é que os problemas não acabaram. A guerra não terminou, o ódio não acabou. Nem vão acabar… Discordo de Rousseau quanto à natureza do Homem: não somos inerentemente bons. A felicidade não é um direito à nascença. Thomas Hobbes disse que nem somos bons nem maus, mas que somos demasiado auto-centrados para conseguirmos viver em sociedade. Com Hobbes concordo. A sede de poder é demasiada. Como é que alguém (Rousseau) pode argumentar que temos bondade a correr nas veias? Desde que nascemos até morrermos é puro egocentrismo, desde que roubamos o Action Man ao nosso amigo até que mandamos à m**** o nosso cuidador informal porque nos deu um chá demasiado quente. E é por isto que a bondade do Sr. Harry é ainda mais de louvar. Dele e de todos nós. Quando renunciamos à nossa maldade, usamos todas as nossas forças para contrariar o nosso ADN e fazer o bem. Mas nem este “bem” tem escapatória… O bem da Rússia é diferente do bem da Ucrânia. O bem da China é diferente do bem de Taiwan. O bem de Hitler era diferente do bem dos Aliados. O bem é julgado de sarcasmo, desconfiado e questionado socraticamente para que o recetor concorde com o bem do emissor. Por vezes existe um bem mais global, que é aceite por quase todos como um verdadeiro bem. O que o Sr. Harry Billinge fez foi um verdadeiro bem. Salvou o mundo.
Este texto, para além de uma breve homenagem a todos os que lutam por um bem global, serve também de repto ao nosso Ocidente “sem guerras”. Dado que não existe uma clara visão do nosso bem global, estamos cada vez mais separados. A religião cumpria o papel de definidora de bem global, mas por culpa tanto das suas instituições como de vários outros inúmeros fatores, a sua confiança dissipou. O ateísmo atingiu a moralidade. Não há concórdia no caminho da Humanidade. Qual será o substituto da religião? O “amor” não será de certeza, porque confiar que o teu vizinho te amará da mesma forma que tu é pura utopia. Basta um ser humano não conseguir “amar o outro”. Basta um. Esse “um” irá arranjar uma forma de dominar e governar sobre todos os que se amam, e volta tudo ao mesmo. Se nem conseguimos dizer a verdade em 100% do nosso dia, como vamos “amar”… Eu não sei qual será a solução para o bem global. Mas sei o meu bem. E é esse que pratico o mais que consigo na esfera privada. Na esfera pública fico-me por estes artigos de opinião.
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