O mundo é um lugar estranho, um palco onde diariamente testemunhamos avanços tecnológicos que desafiam as fronteiras da imaginação humana. Um desses avanços, quiçá o mais impressionante de todos, é a criação da inteligência artificial. Uma entidade não orgânica que transcende nossa compreensão ao subverter papéis, funções e profissões que outrora eram exclusivamente humanas. A inteligência artificial, ou IA, tem infiltrado todos os aspetos de nossas vidas, assumindo o papel intelectual e emocional que antes nos pertencia. E, de alguma forma, essa invasão silenciosa está a condicionar nossa existência, invertendo prioridades e transformando pessoas, num mundo global. “O propósito da tecnologia é melhorar a qualidade de vida, não substituí-la.” – Bill Gates
Imagine um mundo onde tarefas complexas e intelectualmente exigentes são realizadas por máquinas. A inteligência artificial assume o controle de indústrias, escritórios, hospitais e escolas. A AI “pensa”, “analisa” e com processos de decisão mais rápidos do que qualquer ser humano jamais conseguiria. É uma evolução tecnológica inegável, porém não podemos negar as consequências desse perigoso paradoxo.
À medida que a inteligência artificial se torna mais sofisticada, os seres humanos estão a ser progressivamente “exonerados” em muitas áreas profissionais. Afinal, por quê contratar um ser humano para realizar uma tarefa que visa discrição, consultar quantidades enormes de informação quando uma máquina pode fazer o mesmo trabalho de forma mais eficiente e barata? Gradativamente, testemunhamos seres humanos a serem deslocados de suas funções tradicionais, substituídos por sistemas automatizados que não se cansam, não têm emoções, não adoecem, não tiram férias, não pagam segurança social, nem IRS e não protestam. No entanto, ao contrário do ser humano, a IA não tem a capacidade de DECIDIR, uma vez que suas ações são baseadas em algoritmos e programações pré-definidas, sem consciência ou capacidade de avaliar e escolher entre diferentes opções. A IA pode até ser capaz de tomar decisões baseadas em emoções simuladas, mas nunca esqueçamos as diferenças existênciais entre a experiência emocional humana vivida e as capacidades de uma “máquina” (algoritmos).
Mas o que acontece com os seres humanos quando são privados de suas funções intelectuais? Quando nossos empregos são substituídos por algoritmos e máquinas, somos forçados a nos adaptar a um novo papel nas indústrias. E assim, sem percebermos, tornamo-nos mais mecânicos, menos humanos e mais informáticos. Criando-se uma rotina impessoal e robótica, onde executamos tarefas padronizadas e repetitivas. A criatividade, a intuição e a originalidade são suprimidas em favor da eficiência e da produtividade que não serve as pessoas no sentido humanista.
Contrariamente a essa desumanização profissional, as máquinas de inteligência artificial começam a assumir um papel cada vez mais emocional nas nossas vidas. Chatbots e assistentes virtuais, com vozes programadas para transmitir empatia e compreensão, estão a tornar-se nossos confidentes e conselheiros. Eles aprendem com nossas interações e oferecem apoio emocional, como um amigo ou terapeuta virtual. Mas podemos realmente confiar numa máquina para nos entender e proporcionar uma relação emocional genuína? Ou um verdadeiro ato de criação? Não me parece!
O paradoxo da inteligência artificial versus seres humanos cria uma dicotomia perturbadora. Enquanto a IA assume o papel intelectual e emocional que antes era exclusivamente nosso, nós, os seres humanos, vemo-nos relegados e despromovidos a funções mecânicas e impessoais. As nossas competências únicas e intrínsecas, aquilo que nos diferencia das máquinas, estão gradualmente a ser extintas.
Nesse cenário, é crucial refletirmos sobre o que nos torna humanos. Ser humano vai além de realizar tarefas e tomar decisões eficientes. Envolve empatia, compaixão, criatividade e a capacidade de tomar decisões com base em valores éticos. Devemos reconhecer que a inteligência artificial não pode substituir completamente essas qualidades humanas. “A empatia é uma habilidade intrinsecamente humana que se baseia na nossa capacidade de compreender as experiências emocionais do outro por meio da empatia, perspetiva partilhada e de memórias carregadas de afeto. Essa capacidade é profundamente enraizada na nossa biologia, cognição e conexões sociais, tornando-a uma característica exclusiva do ser humano.” – Daniel Goleman
A busca pelo progresso tecnológico não deve levar-nos a negar nossa própria humanidade. Devemos encontrar um equilíbrio entre o uso da inteligência artificial para melhorar nossas vidas e preservar aquilo que nos torna humanos. É necessário repensar o papel do trabalho na sociedade, valorizando as habilidades humanas únicas e criando oportunidades para expressar nossa criatividade e originalidade. Enquanto a inteligência artificial pode oferecer um processamento lógico e eficiente, é a humanidade que brilha com a riqueza das emoções, a profundidade do humanismo e a busca inigualável pelo significado existencial, tornando o ser humano superior e especial em sua capacidade de vivenciar e compreender a complexidade da vida e seu antagonismo, a morte… Como disse Agostinho da Silva, “O verdadeiro conhecimento não está nos livros, mas na própria vida, na experiência vivida e na busca incessante por compreender o mundo e a nós mesmos.”
Porque no final das contas, o paradoxo da inteligência artificial versus seres humanos é um chamado à reflexão sobre o futuro que desejamos construir. É imperativo que usemos a tecnologia com sabedoria, sem esquecer a importância da nossa humanidade. Afinal, o verdadeiro progresso não está em nos tornarmos máquinas, mas sim em abraçar nossa humanidade e avançar com ela. “O futuro da inteligência artificial deve ser moldado pela nossa visão de uma sociedade onde os seres humanos são capacitados a viver uma vida plena e significativa.” – Max Tegmark.
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