Nem tudo foram rosas, senhores, muito menos cravos!

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25 de novembro de 2025: começa a ser reposta a verdade histórica dos acontecimentos que se seguiram ao golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, com a devida comemoração da ação militar que salvou Portugal da “ação popular armada” do Partido Comunista e da extrema-esquerda — melhor traduzido: um golpe de Estado com a criação de mais uma fabulosa república popular conforme todas as outras que existiram e ainda existem.

Se é certo, e do conhecimento geral de todos os que sabem ler e escrever, também é certo que uma grande fatia da população, à época e aos dias de hoje, não sabia, não sabe ou prefere ignorar que a grande maioria da oposição ao Estado Novo que executou o 25 de Abril não desejou nunca um regime democrático do tipo ocidental para Portugal — à cabeça o Partido Comunista Português e a extrema-esquerda restante; aliás, diga-se, a bem da verdade, ainda hoje não gostam muito.

Importa, sobretudo, não reescrever a história, mas sim contá-la como efetivamente foi — o muito português “chamar os bois pelos nomes” — por muito que grande parte do comentariado e dos políticos saudosos do PREC, esquerdistas por direito, o neguem e tentem desviar atenções do que realmente ocorreu.

Constrói-se e solidifica-se a democracia através da verdade, do respeito pelo passado, da transparência e da dignificação do homem e das suas ações de boa-fé, com um legítimo e bem-intencionado fim. Apelidar uma data, um acontecimento, de “revanchismo de direita” ou “o golpe da direita” é tão só e tão simples como escolher ocultar ao povo português o conhecimento sobre aquilo que lhe pertence: o seu passado.

É uma tentativa desesperada da esquerda, num mundo bastante digitalizado, onde cada vez mais cidadãos têm acesso a ferramentas básicas de pesquisa, como o Google (a título de exemplo), de ocultar um dado básico: no dia 25 de novembro de 1975, o PCP e a extrema-esquerda — que nos últimos 50 anos foram vistos como os arautos da democracia e da moral — foram os primeiros a tentar tomar o poder pela força. O Partido Comunista Português não é pai da democracia; nunca o quis ser. Foi participante de um golpe de Estado com vista à instalação de outra ditadura. Ninguém é herói por isso, ninguém deve ser reconhecido por isso.

Para os muitos que fazem ultimamente o hercúleo esforço para desmentir, toldar ideias, acusar a “direita”, dizer inverdades e inverter o ónus, para esses há a factualidade. Por muito que tentem, há a factualidade. Ora vejamos: houve ou não movimentações militares? Houve! Foram ou não transferidos para o Porto os aviões da Força Aérea, o ouro do Banco de Portugal e órgãos de governo? Foram! Havia ou não centenas de estudantes e unidades militares armados e em prontidão para quando Cunhal desse a ordem? Havia! Foi ou não o facto de a Força Aérea sobrevoar Lisboa e o recuo dos fuzileiros que fez o PCP recuar e dar ordem para desmobilizar? Foi! Foi ou não o PCP, através dos sindicatos que controlava, que mandou cercar a Constituinte? Foi! Há ou não inúmeros testemunhos de ex-militantes e partidários do PCP que, hoje afastados, admitem e contam a história do acontecimento e do envolvimento do PCP — por exemplo, a Zita Seabra? Há! Era ou não intenção de Cunhal tomar o poder através da ação armada, a “ação popular armada”? Era!

Para que servem tantas tentativas, diariamente, nos jornais e na televisão, de branquear este acontecimento, de branquear a sua autoria, de, no limite, tentar inverter o ónus e fazer o cúmulo de dizer — como ouvi no ano passado, já não me recordo onde, das comentadoras de serviço (ninguém sabe bem com que critério de escolha, mas adiante) Maria Castelo Branco e Adriana Cardoso —: “foi uma derrota da direita”? Para quê tanto esforço?

Será porque, agora, passados tantos anos de uma história contada à medida, seria uma hecatombe dizer a verdade que se impõe? Dizer que os que encabeçam o desfile da Av. da Liberdade no dia 25 de Abril, entoam “fascismo nunca mais”, envergam o escarlate cravo na lapela por tudo e por nada, afinal foram o elemento mais perigoso e que pôs em causa a implantação de um regime como hoje o conhecemos?

Dizer que temos no Parlamento, sentados há décadas, um partido — o único partido — que quis “derrubar a democracia”, a liberdade há tanto esperada? Que temos um partido legalizado que planeou um golpe de Estado e não o executou na totalidade por mero acaso?

Se no dia 25 de novembro de 1975, contadas as espingardas, fossem os números favoráveis ao PCP e à extrema-esquerda e o golpe fosse inteiramente executado, os senhores que hoje se insurgem contra a evocação da data sentir-se-iam tão confortáveis para relativizar a data? Confiariam que, como já se vem a ler nas últimas semanas, “não se passou nada e ia correr tudo bem”? Se assim não for, podemos concluir que, afinal — lidos os factos — a data teve relevância, ou não?

As datas só são fraturantes porque aqueles que têm um passado obscuro nunca foram chamados à responsabilidade. Dizer a verdade não é fraturante; dizer a verdade é pacificador. Querer fazer crer que o 25 de Abril e os tempos que se seguiram foram um mar de rosas — de cravos, perdão — é que fratura e divide.

Uma democracia quer-se viva na transparência e nos valores.
Sim, a data deve ser celebrada! Sim, com as mesmas honras de Abril, se assim for decidido!
Que não haja mais medo de escrever a história como ela foi!

Dizer a verdade, contar a história como ela foi, não só não é prejudicial como não é fraturante: é, tão só, justiça.

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Considero ter um dever inalienável de me imiscuir na vida política do meu país o qual tenho vindo a fazer nos mais diversos planos.

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