Jimmy Kimmel NÃO foi censurado

Tal como na Venezuela, quando as tácticas ilusórias da esquerda saem pela culatra, a tendência não é para a reflexão nem para a aprendizagem empírica, mas, como a esquerda se alimenta da incontinência emocional, recorre-se então à manipulação psicológica e à falácia.

Tempo de leitura: 9 minutos

Por que estava Charlie Kirk em debate num campus universitário?

Desde o assassinato de Charlie Kirk no Utah, ninguém parou para questionar o mais básico: o que estava um activista de direita a fazer num campus universitário a debater com estudantes? Por que foi necessário organizar tal evento? De Steven Crowder a Myron Gaines, debater com estudantes universitários tornou-se um exercício lucrativo para influenciadores de direita. Mas porquê fazê-lo quando as universidades já são, supostamente, locais de aprendizagem, discussão e debate?

A resposta é simples: a censura ideológica e o nepotismo sequestraram o ensino superior na última geração. Foi em 2017 que Berkeley ardeu para impedir Ben Shapiro de dar uma palestra, a convite de estudantes locais. No entanto, 2017 foi simplesmente o culminar de décadas de marcha da esquerda totalitária nas instituições. Hoje, testemunhamos uma tendência dominante progressista, documentada em vários estudos, como os casos de Luigi Mangione ou Tyler Robinson demonstram.

Por outras palavras, Kirk estava a debater com estudantes num campus universitário porque, de outra forma, eles nunca teriam contacto com o pensamento ou argumentos conservadores. Kirk foi baleado num campus universitário ao tentar romper a censura. É, portanto, particularmente irónico que parte dos media tentem agora manipular o seu público para que acredite que a censura é um problema que emana da direita. A direita conservadora tem sido ostracizada dos meios de comunicação social e da cultura desde, pelo menos, a década de 1970. 

Jimmy Kimmel, apresentador do programa Jimmy Kimmel Live! da ABC, poucas horas após o assassinato brutal de Charlie Kirk, optou por fazer o que se tornou comum nos programas de comédia de serão e fez pouco da situação, mentindo descaradamente sobre os factos. É verdade que isto não é inédito no seu programa pois, a meu ver, ele tem incorrido em mentiras e propaganda sobre basicamente todas as controvérsias em torno de Donald Trump na última década, desde a teoria da conspiração em torno do Russiagate, até às vacinas. 

No entanto, com um governo republicano no poder e a opinião pública cada vez mais contra a esquerda, a ABC tomou uma decisão comercial e suspendeu Kimmel. Esta decisão foi motivada por uma série de fatores: há meses que circulavam rumores de que o programa estaria a perder audiência e poderia não ser lucrativo, as afiliadas da ABC pressionaram pela suspensão,provavelmente preocupadas com a reacção do seu próprio público, o diretor da Comissão Federal de Telecomunicações (FCC) do governo Trump falou publicamente sobre os abusos dos canais que usam licenças de radiodifusão pública para espalhar propaganda partidária extremista, e os executivos da ABC, presumo, também alertaram para o facto de que as afirmações controversas de Kimmel sobre as opiniões ideológicas do assassino Tyler Robinson, terem o potencial para desencadear um grande processo por difamação.

Sejamos claros: a decisão foi privada, não pública, e foi tomada levando em consideração a imagem pública da ABC, a sua reputação, bem como seus interesses comerciais e jurídicos. O que Kimmel disse não foi censurado, uma vez que os seus comentários foram amplamente divulgados, especialmente por influenciadores MAGA. Ao contrário da história do portátil de Hunter Biden, que foi ignorada pelos meios de comunicação social e directamente censurada pelas redes sociais (atesto esse facto pessoalmente, pois os meus próprios tweets e posts foram apagados pelo Twitter e pelo Facebook), sob pressão política da Casa Branca liderada pelos democratas (é um exagero dizer que era liderada por Biden), os comentários e piadas de Kimmel foram amplamente divulgados em todos os meios de comunicação. Afinal, se uma empresa privada opta por se associar a Sydney Sweeney em vez de Lizzo, estará a censurar Lizzo?

Se a ABC tivesse total confiança em Jimmy Kimmel, poderia muito bem ter contestado quaisquer decisões futuras da Casa Branca, de Donald Trump ou da FCC, em tribunal, e até mesmo no Supremo Tribunal, se necessário. É verdade que os media e o sector do entretenimento não se saem bem quando são forçados a operar sob o peso da censura. Em vez disso, como foi o caso do The Late Show with Stephen Colbert, a emissora CBS argumentou que a apresentação de Colbert se tinha tornado contraproducente para os seus próprios interesses comerciais, com ou sem o descontentamento da Casa Branca. Não é necessária mais prova do que a evidência de que todos os media  tentaram capitalizar o fenómeno do ódio anti-Trump, após a sua primeira eleição em 2016. O que mudou de 2016 para 2025 foi a atitude do público e das empresas que precisam de clientes.

A situação dos programas de comédia de serão nos EUA assemelha-se, de certa forma, à constante de conservadores alertando progressistas de que as suas decisões comerciais não fazem sentido, os progressistas ignorando o aviso, apenas para que a realidade os confronte mais tarde com os fracassos da sua própria ilusão. Por exemplo, a Direita avisou que as políticas marxistas da Venezuela resultariam numa catástrofe económica e financeira. A Esquerda ignorou e agora temos uma catástrofe. A Direita também alertou que estes programas de comédia não poderiam sobreviver direcionados exclusivamente para metade da população e em competição por essa mesma fatia limitada do mercado. O resultado é, surpresa, surpresa, o fracasso previsto.

Kimmel está a enfrentar as consequências do seu extremismo ideológico, tanto quanto a ABC está a enfrentar as consequências da sua própria estratégia incompetente de conteúdo. 

Kimmel saberia que estava a ser censurado se tivesse sido “cancelado”, se a Casa Branca e as secretas tivessem ligado para a ABC para pressionar a sua demissão, se tivesse sido colocado numa lista de interdição de voo, se as redes sociais tivessem banido as suas contas, se o seu Patreon tivesse sido bloqueado, se houvesse fóruns na Internet a pedir o seu assassinato, se a sua casa tivesse sido invadida pelo FBI com a CNN a filmar o evento ou se bilionários politicamente corretos estivessem a financiar processos judiciais contra a ABC. É claro que nada disso aconteceu.

Isto faz lembrar o ataque e vandalismo à sede da CNN em Atlanta pelo BLM, após meses de incitação ao ódio racial e divisão pela própria rede; chamemos-lhe “karma pós-moderno”. 

Tal como na Venezuela, quando as tácticas ilusórias da esquerda saem pela culatra, a tendência não é para a reflexão nem para a aprendizagem empírica, mas, como a esquerda se alimenta da incontinência emocional, recorre-se então à manipulação psicológica e à falácia. Quando a economia venezuelana finalmente entrou em colapso, a culpa foi atribuída às sanções dos EUA, o eterno bode expiatório. Caracas ainda consegue negociar com praticamente todos os outros países do mundo e grande parte das sanções dos EUA consiste em sanções a indivíduos, mas, certamente, o problema deve ter origem nas sanções e não no comunismo.

A esquerda pós-moderna recorreu, assim, a uma hipocrisia pornograficamente repugnante e à manipulação psicológica para tentar contrariar a realidade factual de que, mais uma vez, o assassino ou potencial assassino era de extrema-esquerda, progressista, endoutrinado pela universidade, envolvido em círculos transgénero e inspirado pelo entretenimento marxista dos meios de comunicação social.

Kimmel e Colbert são provavelmente os primeiros de muitos que se seguirão. A Esquerda pode tentar culpar a Direita pelas suas feridas autoinfligidas, mas a realidade factual acabará sempre por alcançar aqueles que tentam fugir dela. Mais uma vez, relembro a conclusão do personagem Valery Legasov em Chernobyl: “enquanto outrora me preocupava com as consequências de dizer a verdade, agora preocupo-me com o custo das mentiras”.

Referências

Washington Post. (2017, August 28). Black-clad Antifa attack right-wing demonstrators in Berkeley. The Washington Post. https://www.washingtonpost.com/news/morning-mix/wp/2017/08/28/black-clad-antifa-attack-right-wing-demonstrators-in-berkeley/

CBC Radio. (2017, September 20). The politics of the professoriat: Political diversity on campus. CBC. https://www.cbc.ca/radio/ideas/the-politics-of-the-professoriat-political-diversity-on-campus-1.4280778

CBS Austin. (2018, December 10). Major networks: 92% negative coverage of President Trump. CBS Austin. https://cbsaustin.com/news/nation-world/major-networks-92-negative-coverage-of-president-trump

CNBC. (2025, September 18). Jimmy Kimmel faces FCC backlash over Charlie Kirk comments. CNBC. https://www.cnbc.com/2025/09/18/jimmy-kimmel-charlie-kirk-fcc-carr.html

Politico. (2019, March 24). Mueller report summary clears Trump of conspiracy. Politico. https://www.politico.com/story/2019/03/24/trump-mueller-report-1233442

Newsweek. (2025, April 17). Jimmy Kimmel Live! map: Sinclair Broadcast and ABC reactions. Newsweek. https://www.newsweek.com/jimmy-kimmel-live-map-sinclair-broadcast-2134012

YouTube. (2025). Jimmy Kimmel clip – Charlie Kirk controversy. [Video]. YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=Xx1fJJN0R4A

Cornyn, J. (2020, October 16). Twitter censoring NY Post’s Hunter Biden story a mistake. United States Senate. https://www.cornyn.senate.gov/news/twitter-censoring-ny-posts-hunter-biden-story-a-mistake/

Economics Observatory. (2021, February 23). Why did Venezuela’s economy collapse? https://www.economicsobservatory.com/why-did-venezuelas-economy-collapse

Promotional Communications. (2023). Late-night political comedy and audience polarization in the United States. Promotional Communications, 11(2). https://promotionalcommunications.org/index.php/pc/article/view/139

BBC News. (2025, September 25). ABC suspends Jimmy Kimmel amid FCC controversy. BBC. https://www.bbc.com/news/articles/czxlpjlgdzjo

The Daily Telegraph. (2018, July 3). Why controversial YouTube star Lauren Southern was banned from coming to Australia. The Daily Telegraph. https://www.dailytelegraph.com.au/blogs/miranda-devine/why-controversial-youtube-star-lauren-southern-was-banned-from-coming-to-australia/news-story/65862524cab3a8570a7b4eb3160daad9

U.S. Press Freedom Tracker. (2020, May 29). CNN headquarters in Atlanta vandalized during protest. https://pressfreedomtracker.us/all-incidents/cnn-headquarters-atlanta-vandalized-during-protest/

Partilhe este artigo:

Miguel Nunes Silva é Director do Instituto Trezeno e é Mestre em Estudos Europeus pelo Colégio da Europa, em Bruges.

Contraponha!

Discordou de algo neste artigo ou deseja acrescentar algo a esta opinião? Leia o nosso Estatuto Editorial e envie-nos o seu artigo de opinião.

Mais artigos da mesma autoria:

MAIS AUTORES