Outubro: A Democracia diz Presente

Em outubro, quando formos chamados a escolher os nossos representantes locais (...) Estará em causa algo maior: a capacidade da nossa democracia de continuar a ser um espaço de verdade, de propostas e de proximidade.

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“É fácil atacar; difícil é governar. É simples acusar; complexo é propor. Mas é nesse esforço de pensar, propor e realizar que a democracia ganha substância.”

Outubro aproxima-se e, com ele, o momento em que a democracia local se afirma no seu mais puro e genuíno exercício: as eleições autárquicas. Não há outro ato político que esteja tão próximo da vida concreta das pessoas como este. As decisões tomadas nas Câmaras Municipais e nas Juntas de Freguesia não ficam perdidas em gabinetes distantes ou em debates abstratos no Parlamento; refletem-se no quotidiano, na rua que se percorre, no parque onde as crianças brincam, no apoio social que chega à porta de quem mais precisa.

É por isso que a política autárquica deveria ser — e, no seu âmago, é — a expressão mais direta da ligação entre eleitos e cidadãos. O autarca não pode ser um rosto distante, mas sim um amigo próximo, uma porta aberta, alguém que não falta quando o problema bate à porta. Esse é o verdadeiro desígnio do poder local: estar disponível, ser um resolvedor de problemas, garantir que a política não é uma promessa vazia mas uma prática diária de compromisso, proximidade e cooperação.

Infelizmente, sobretudo em período de campanha eleitoral, este espaço de proximidade tem sido contaminado por práticas que desvirtuam a essência da política: mentiras repetidas até à exaustão, populismos baratos que vendem ilusões a curto prazo e ataques pessoais que procuram destruir em vez de construir. Mas este fenómeno não se esgota nas campanhas: ao longo dos mandatos, assiste-se demasiadas vezes a oposições frouxas ou executivos estáticos que, incapazes de se afirmarem com propostas concretas ou obra no terreno, recorrem ao mesmo argumentário fácil e populista, corroendo o debate político e diminuindo a confiança dos cidadãos. Esta não é a política que engrandece a democracia; é a política que a enfraquece, que transforma a esperança em desilusão e que afasta as pessoas da participação cívica.

A política não deve ser palco de vendetas pessoais ou de discursos inflamados que apenas procuram a destruição do adversário. A política — e a autárquica ainda mais — deve ser feita com e para as pessoas. Trata-se de apresentar propostas concretas, de desenhar soluções que respondam às reais necessidades da população, de servir a comunidade e não de se servir dela.

Às vezes esquecemo-nos de que a democracia é mais do que o direito de votar: é o dever de construir. E a política autárquica, por ser o nível mais próximo dos cidadãos, carrega sobre os ombros a maior das responsabilidades: a de não falhar. Porque quando a política local falha, não falha apenas um projeto ou um partido; falha o próprio vínculo de confiança entre o povo e a democracia.

Em outubro, quando formos chamados a escolher os nossos representantes locais, não estará em causa apenas quem ficará com a chave dos Paços do Concelho ou das sedes das Juntas de Freguesia. Estará em causa algo maior: a capacidade da nossa democracia de continuar a ser um espaço de verdade, de propostas e de proximidade. Na verdade, e tendo em conta o novo panorama político nacional, estará mesmo em causa a continuidade da política democrática tal como a conhecemos.

O dia 12 de outubro não é – ou não deve ser – apenas mais uma data no calendário dos Portugueses. É o dia em que a democracia diz presente — e cabe a todos nós garantir que, no momento de escolher, dizemo-lo também.

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Fernando Almeida Marques. De Cortegaça, mas atualmente em Lisboa. Jovem. Advogado. Presidente da juventude do PSD Ovar.

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