Antes de mais, é importante frisar que este artigo está a ser escrito por alguém que se considera uma pessoa de direita, mais precisamente um liberal económico, que pouco tem a opinar sobre a sociedade, uma vez que todos devem ser livres, desde que não extrapolem a liberdade dos outros. Além disso, também gosto de estudar política e como a mesma está integrada na nossa sociedade.
Em Portugal e noutros países europeus, acontece um fenómeno fascinante que, a meu ver, é o grande culpado do fracasso da direita e, consequentemente, deste conjunto de nações: o medo que os líderes dos partidos de direita têm de se assumirem como tal, de não terem orgulho em ser de direita e de se associarem a pessoas que também o são.
Temos visto muito disto na campanha para as atuais eleições legislativas. O caso mais flagrante foi o de Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, que, num dos primeiros debates, ao ser questionado sobre um suposto insucesso de Javier Milei, não soube contrapor esse argumento falacioso com factos e dados que comprovassem que o presidente da Argentina está a ser bem-sucedido na tarefa de tirar o país do buraco deixado por décadas de socialismo.
E, atenção, este não foi o único caso. Luís Montenegro, Nuno Melo e André Ventura passaram por situações semelhantes, com várias comparações ao presidente americano Donald Trump. No entanto, na maioria dos casos, todos os líderes apresentaram desculpas esfarrapadas para evitarem qualquer associação a essas figuras.
Para termos uma direita forte em Portugal, não podemos ter vergonha dos nossos ideais. A esquerda não faz isso, e fá-lo bem. Não vi uma única vez Mariana Mortágua, Paulo Raimundo ou Rui Tavares inibirem-se de dizer aquilo que realmente querem para o país e quais são os seus ideais, por mais utópicos ou desfasados da realidade que estes possam ser.
Quando questionados sobre uma possível megacoligação pós-eleitoral, também vemos a esquerda muito mais unida do que a direita, que rejeita à partida qualquer acordo com determinados partidos, como é o caso da IL e da AD, ou, pelo contrário, adota atitudes absolutamente abomináveis, como fez o Chega com os cartazes que afixou, para além de todo um conjunto de decisões extremamente questionáveis. Como é óbvio, não se podem fazer coisas destas e depois esperar que seja viável uma geringonça de direita com os mesmos partidos e personalidades que tanto se criticou.
Por uma vez na vida, acho mesmo que a direita se devia inspirar na esquerda e perceber que, se queremos governar Portugal por mais de quatro anos, precisamos de mais união e compromisso com os ideais da liberdade económica e individual. Para que isso aconteça, será necessária alguma flexibilidade por parte da AD e da IL, e uma mudança drástica de atitude por parte do Chega. Por um momento, temos de esquecer o que nos separa, em nome do crescimento económico e da prosperidade do nosso país.