O conceito é inovador, os atores são excelentes, a qualidade da produção é ímpar. Ao contrário dos filmes de Hollywood, nem sequer se pode criticar o argumento por ser simplista ou pobre em substância.
Ainda que compreensivelmente focado no trabalho dos médicos, a série abrange todas as áreas de uma urgência, desde a sala de espera, ao pessoal da limpeza e aos paramédicos. Acima de tudo, a série distingue-se por cada episódio corresponder a uma hora dentro do serviço de urgência e os casos médicos ocorrerem ao longo de vários episódios consoante a gravidade. A série é mais gráfica do que outras e não se coíbe de mostrar óbitos. Trazendo uma abordagem mais realista, quando um caso é grave, em “The Pitt” não haverá médicos heroicos que salvam o paciente no último segundo, com um tratamento milagroso de improviso, que a mais ninguém tinha ocorrido.
Dito isto, a série tem um problema fundamental que as audiências devem ter em conta: é severamente politizada com propaganda de extrema esquerda totalitária. É trágico porque a qualidade é realmente soberba, mas em quase todos os episódios temos evangelização de doutrinas extremistas.
Exemplo 1: dois pacientes têm um confronto violento e, previsivelmente, é o paciente conservador que é o agressor. Absurdo total quando sabemos quem, na realidade dos factos, anda a vandalizar stands da Tesla1, a incendiar cidades2, a impedir a liberdade de expressão nas universidades3,4, a atacar militantes5 e comícios do adversário político para nem falar em disparar contra o Presidente do partido rival6. Segue-se a moralização do mesmo paciente conservador por não usar máscara, intencionalmente misturando condições de esterilização em bloco operatório com prevenção de “contágio pandémico”. E já agora, mesmo levando em consideração as pessoas que exageram – atribuindo às vacinas testadas ao longo de décadas, a mesma suspeita que mereciam os placebos experimentais ao longo dos confinamentos pânico-moralistas – a culpa não pode ser imputada à população mas sim às autoridades de saúde que mentiram aos cidadãos durante a crise pandémica, e aos media que diabolizaram e estigmatizaram quem discordava da narrativa predominante.
Exemplo 2: um paciente com disforia de género (transexual) entra nas urgências e no final da consulta a médica oferece-se para, num ato de revisionismo, alterar toda a ficha médica afim de mudar os pronomes do mesmo. Não se trata apenas de ser politicamente incorreto pois tal decisão poderia confundir, dificultar e pôr em risco o paciente em futuras decisões médicas e diagnósticos
Exemplo 3: um celeuma é levantado aquando de um erro no diagnóstico elaborado a uma paciente obesa. Esta é readmitida em estado crónico nas urgências mais tarde, depois de na primeira instância ter sido mandada para casa com um simples antibiótico. A médica do primeiro diagnóstico (de etnia caucasiana) é envergonhada e posta sob suspeita por uma segunda médica (de etnia negra) por ter potencialmente presumido que o problema da paciente estaria relacionado em parte com o seu peso. O incidente terminou com a médica negra a declarar que “o seu tamanho não implica inerentemente enfermidade”. Terrível mensagem a ser propagada por um drama médico, que normalmente também serve de sensibilização e informação mas, sobretudo, um incidente que na realidade tudo teria para ocorrer inversamente, sabendo-se à partida que a intolerância e o preconceito são muito mais comuns entre as minorias étnicas dos EUA do que são nos caucasianos7. No caso dos crimes fatais contra pessoas transexuais, para dar um exemplo, são os negros que desproporcionalmente cometem mais crimes “de ódio”8.
Exemplo 4: no episódio 11, o wokismo vai de mal a pior, com um caso de barriga de aluguer para benefício de um casal gay, no qual a mãe de bom grado cede o bebé aos “pais”, pais esses que se revelam ser pais dedicados. Já para encontrar pais egoístas e ansiedade emocional, famílias heterossexuais servirão bem.
Mas a maior monstruosidade vem no final do episódio quando a linha narrativa de um adolescente com fantasias homicidas é concluída com os médicos a incentivarem a mãe a denunciá-lo às autoridades. O chefe das urgências confidencia com a mãe que os rapazes enfrentam uma crise porque “não sabem expressar os seus sentimentos” e porque resolvem recorrer à internet para aconselhamento em masculinidade oriundo de podcasts “tóxicos” – os “locais errados”. Aquilo a que se referem é à comunidade Red Pill ou Manosphere9. Esta comunidade online baseia-se no que a psicologia evolutiva tem aprendido sobre os instintos humanos, para compreender as tendências sociais, nomeadamente em matéria de relacionamentos.
Ao contrário do que o chefe das urgências proclama, os espaços masculinos de discussão de relacionamentos e dinâmicas intersexuais online, longe de serem tóxicos, têm salvado muitos homens do limiar do suicídio. O suicídio advém normalmente de desespero e este instala-se em alturas de depressão, de incompreensão e de desilusão. Para jovens adolescentes a pressão social é tremenda mas ela é sobretudo mais pesada para os rapazes do que para as raparigas pois elas podem não compreender o mundo mas, a partir da puberdade, começam a receber validação universal. Os rapazes, por outro lado, vivenciam o sentimento oposto, e por isso muitos entram em crise. Ao contrário do mundo politicamente correto e mendaz da narrativa social dominante, os espaços de diálogo masculino pautam-se pela honestidade e pela franqueza. Os testemunhos de membros destas comunidades – que se mantêm perfeitamente marginalizadas – são prova disso. A verdade é a verdade, doa a quem doer.
O conselho da personagem do médico é exatamente o pior que poderia ser dado a um rapaz. Não é através do sentimentalismo e da sinalização de virtude que um rapaz se torna mais atraente ou popular. Muito pelo contrário, o incentivo à feminização dos rapazes e à masculinização das raparigas, e a consequente destruição da dinâmica sexual entre homens e mulheres, é precisamente o que tem contribuído para a destruição dos relacionamentos, da taxa de natalidade e da estabilidade familiar. O incentivo social à profissionalização das mulheres e ao sentimentalismo nos homens contribuiu apenas para a frustração de todos e para a generalizada disfunção da sociedade ocidental. Mulheres com carreiras acabam por desperdiçar os seus anos de maior fecundidade e homens emocionais perdem totalmente o respeito de mulheres que procuram companheiros mentalmente equilibrados e competentes.
Veredito: É uma série de grande qualidade, escrita e realizada por competentes argumentistas. No entanto, o contexto sociológico em que ela é produzida deve constituir um pré-aviso a quem a queira acompanhar, pois esta obra está contaminada por ideologias extremistas e totalitárias, próprias do ecossistema artístico norte-americano do século XXI pós-moderno. Mais do que os preconceitos sociais das personagens, a perspetiva narrativa não é isenta e é, na verdade, altamente problemática e fanática.
“The Pitt”, inconscientemente, acaba por ser uma versão americana da disfuncionalidade observada na mini-série “Chernobyl”. Na série, a URSS tinha uma das suas melhores e mais recentes centrais nucleares e a indústria nuclear soviética era das mais avançadas no mundo. Tal como em “Chernobyl“, o sistema americano de saúde é dos melhores do mundo e existe na vanguarda da investigação científica e da formação médica. Mas aquilo que os dois sistemas partilham é, também, a politização da ciência.
As consequências das mudanças de sexo artificiais em milhares de crianças serão julgadas no futuro como um crime hediondo. O mesmo acontecerá com a patologização da masculinidade ou a normalização da obesidade.
Se o mérito do todo se sobrepõe ao nefasto do específico, é um juízo que cada telespectador terá que fazer, desde que consciente do viés fundamental da obra.
- https://www.washingtontimes.com/news/2025/mar/12/republicans-want-democratic-pac-probed-potential-link-tesla-vandalism/ ↩︎
- https://www.forbes.com/sites/conormurray/2025/05/01/tesla-protests-and-vandalism-surge-justice-department-charges-seventh-alleged-vandal/ ↩︎
- https://www.foxnews.com/us/ben-shapiro-speech-at-uc-berkeley-results-in-arrests-at-protests ↩︎
- https://www.businessinsider.com/list-of-disinvited-speakers-at-colleges-2016-7?op=1 ↩︎
- https://www.pbs.org/newshour/politics/the-growing-list-of-political-violence-in-the-u-s ↩︎
- https://www.nbcnews.com/politics/donald-trump/prominent-republicans-lay-blame-democrats-trump-rally-shooting-rcna161774 ↩︎
- https://en.wikipedia.org/wiki/Homophobia_in_ethnic_minority_communities#cite_note-31 ↩︎
- https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/10778012241289425 ↩︎
- https://therationalmale.com/2015/06/09/in-defense-of-evo-psych/ ↩︎