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Pela primeira vez em muito tempo, os EUA terão uma Presidência republicana, Casa dos Representantes republicana, Senado republicano, e um Supremo Tribunal com muitas influências republicanas. A regressão dos direitos civis é dada como certa.

Mas, essencialmente, podemos chegar à conclusão que a falha foi do partido democrata. Kamala Harris não foi a candidata certa para fazer frente ao tubarão económico que é Trump. Muito da sua campanha foi mal concretizado. 

Eu não desculpo quem considera sensato colocar uma pessoa com cadastro, e que tantas provas já deu que é racista e sexista – enfim, que tem um péssimo caráter – na Casa Branca. Porém, olhemos para o país que é, e para as pessoas: embora não sejam todas racistas e sexistas, há uma grande parte que toma decisões nesse sentido, por ser desinformada/inculta (há uma entrevista a uma senhora apoiante de Trump a alegar que o furacão Milton foi feito pelo governo), e outras porque, inegavelmente, o são. Trump toca nos insatisfeitos, nos trabalhadores com baixos níveis de educação, nos que se interessam em manter os EUA uma potência económica mundial e fazer frente às outras, e claro, nos racistas, anti-aborto, sexistas, antissemitistas, e nos desinformados. 

Kamala parecia o Manchester City no estádio de Alvalade, embora este seja um clube forte e bem preparado. Olhando para o seu histórico, a candidata já tinha desistido, em 2020, nas primárias do partido, tendo piores números no eleitorado afro-americano que Joe Biden na Carolina do Norte. Já para não falar do contributo para a administração do mandato de Biden, que não foi efetivo, e ela mesma disse que não iria mudar nada, portanto se havia descontentes, que os há, descartaram logo o voto democrático. 

Kamala perdeu num condado no Texas, 96% constituído por latinos, que não era republicano desde 1892. Entre outros dados nacionais chocantes, perdeu em nichos que teoricamente seriam democratas e seus apoiantes. Quem votaria numa candidata que não apresenta nenhuma proposta económica? Dizer às pessoas que o custo de vida estava a melhorar, sem elas o verem, não é uma mensagem económica, ainda para mais tendo Trump uma posição tão forte a esse nível.

Kamala pouco falou sobre economia e imigração, os pontos fulcrais que iriam decidir a eleição. Agarrou-se ao aborto, o que pode ter captado muitos votos, mas provou que era incompleta. A narrativa do “é melhor votar em mim do que no outro” não cola em toda a gente, e o partido não podia deixar esta eleição tão historicamente importante não ter um representante bem reconhecido, porque mais imperativo que a vitória democrata, era a derrota de Trump. Em vez disso, ele ganhou quase “sem sofrer golos”.

Podemos dizer que a culpa foi do Shapiro, do wokismo, de Deus. Há quem considere que os democratas se colocaram demasiado à esquerda, que a solução seria ter ficado ao centro e captar o voto republicano sensato. Uma coisa é certa: os direitos civis das minorias e das mulheres vão levar um rombo muito forte, e as repercussões gerais desta eleição vão ser mundiais. Os Estados Unidos elegeram um presidente com cadastro antes de uma presidente mulher.

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