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Embora muita gente já tenha ido à fisioterapia, há poucos utentes que conseguem entender o nosso real objetivo – qualidade funcional. A tão ansiada diminuição da dor é um resultado indireto deste propósito.

Muitas pessoas não têm conhecimento, mas atuamos na prevenção, isto é, na redução do risco, mesmo não sendo possível apagar a possibilidade de surgir algum problema físico. Também atuamos educacionalmente, indicando o que as pessoas podem fazer em caso de lesão, ajudando a tentar evitar que aconteçam e auxiliando durante todo o processo.

A Fisioterapia é muito mais que a parte geriátrica, embora seja a área mais predominante no mercado de trabalho, e aquela que abordarei de seguida. Falando do utente com mais idade, temos de entender o porquê dos métodos passivos (que não envolvem esforço do utente, como massagem, eletroterapia, etc.) serem os mais apetecidos. A meu ver, e baseando-me apenas na minha experiência, grande parte destes utentes têm uma mentalidade de autocomiseração: consideram que o trabalho ao longo da vida foi muito, mas ao mesmo tempo glorificam-no, e que ser muito trabalhador é bom, e trabalhar sem peso e medida era sinal de uma pessoa de elevado caráter. A receita para o desastre.

A verdade é que esta população só se lembrou do corpo quando começou a doer. Antes disso, foi fazer tudo o que era mais antinatural: não cuidar – claro que há um fator socioeconómico muito preponderante – e não fazer exercício, que, na cabeça de uns, é o mesmo que uma atividade laboral muito física, e noutros, fazer uma pequena caminhada. A massagem sabe muito bem, durante as máquinas dormem a sesta. Mas os exercícios? Um martírio.

Um exemplo: tenho uma utente que dizia que ficava pior sempre que fazia o exercício da ponte glútea e, passado uns minutos, levantava a bacia para apertar as calças. Pasmem-se, uma ponte glútea! E explicar-lhe que fez exatamente aquilo que disse que não consegue? É difícil numa população com tão pouca noção corporal.

O processo da reabilitação requer responsabilização do próprio corpo e saúde, mudar de hábitos e acreditar. No entanto, encontramos uma população que sente o peso da responsabilidade que tem sobre si mesmo, além de que possuem a autoconsciência de que é socialmente aceitável não querer mudar hábitos. Chegamos, assim, ao ponto fulcral da questão: se um problema crónico não é resolvido da forma mais fácil e prazerosa possível, com o mínimo investimento, para eles, não funciona. Toda a gente quer milagres, todos adoram medicamentos, que o problema fique resolvido ontem, e ninguém quer saber da causa que o originou para, de facto, curá-lo.

Ainda assim, a sociedade está cada vez mais culta quanto aos benefícios do exercício físico. Estamos a avançar a passos de bebé para o que a ciência defende como certo, mas ainda temos muito que andar. Na minha opinião, temos de atuar mais no medo que as pessoas sentem de fazer mal um exercício e ficar com mazelas para a vida. Sim, super dramático, mas ainda se ouve muito, e a culpa está em certos profissionais sensacionalistas que alimentam a ideia das posturas perfeitas para cada movimento. É importante saber que cada caso é um caso, que devemos confiar no nosso corpo, e que o movimento tem mais vantagens que desvantagens.

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