Com a promessa de um emagrecimento rápido, padrões alimentares que incluem o jejum intermitente têm-se tornado cada vez mais apelativos para aqueles que procuram perder peso. O jejum intermitente consiste em alternar períodos de jejum com períodos em que se consomem alimentos e bebidas (que representem calorias). Ainda que existam vários protocolos, todos eles se baseiam essencialmente numa total e propositada abstinência alimentar durante um determinado período.1 No entanto, não são especificados os alimentos que devem ser ingeridos, nem os que devem ser afastados da alimentação, o que desde logo nos faz questionar a sua validade do ponto de vista da saúde.
Por outro lado, se pensarmos que uma pessoa comum janta entre as 20h e as 20h30, e faz a sua primeira refeição do dia entre as 7h30 e as 8h, percebemos que, de forma completamente espontânea, fez-se um jejum de 11 a 12 horas. Então, na verdade, o requisito deste padrão alimentar é, essencialmente, estreitar a janela horária de consumo de alimentos, mesmo que isso, muitas vezes, já aconteça naturalmente. É de realçar que não há nenhuma garantia de que os alimentos consumidos sejam necessariamente adequados do ponto de vista nutricional e representem uma quantidade calórica que assegure o emagrecimento, principalmente quando o jejum intermitente é adotado sem nenhuma ajuda profissional.
Ou seja, voltamos ao cerne da questão quando se fala de muitas dietas milagrosas: o défice calórico é sempre necessário, independentemente da forma como é aplicado, para que haja perda de peso. É importante acrescentar que padrões alimentares desequilibrados frequentemente associados ao jejum intermitente podem levar a perdas significativas de massa muscular.
Em contrapartida, há evidência que efetivamente reconhece resultados positivos ao jejum intermitente, não só na perda de peso, como na melhoria de alguns parâmetros metabólicos, como na resistência à insulina e na diabetes mellitus tipo 2, e de outras doenças, tais como hipertensão e fatores de risco cardiovascular. No entanto, os resultados não são estatisticamente significativos quando comparados a uma restrição calórica contínua, nem avaliam os seus benefícios e consequências a longo prazo.2
Ainda assim, enquanto nutricionista com experiência na área clínica, consigo identificar alguns indivíduos que podem beneficiar desta estratégia. Um plano alimentar é como um ‘puzzle’ construído à medida de cada um. Isto significa que um indivíduo, muitas vezes por imposição laboral, consegue fazer apenas 3 ou 4 refeições por dia, o que naturalmente encurtará a janela de consumo de alimentos. Há também quem prefira comer menos vezes por dia e beneficiar assim de um maior valor de alimentos em cada refeição. Então, apesar de o jejum intermitente não ser, de todo, o elixir do emagrecimento, quando bem estruturado, poderá ser um aliado da perda de peso. Deverá ser estabelecido num padrão alimentar apropriado e, sobretudo, com supervisão por parte de um profissional adequado, como é o caso do nutricionista.
- Vasim, I. et al. (2022). Intermittent Fasting and Metabolic Health. Nutrients 2022, 14(3), 631; https://doi.org/10.3390/nu14030631 ↩︎
- Idem. ↩︎
Pintura de capa por Diego Velázquez
Partilha este artigo:
Deixe um comentário