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Parece que o facto da expressão “pessoas que menstruam”1 ter sido utilizado numa campanha da Direção-Geral da Saúde (DGS), em detrimento da palavra mulher, tem sido motivo de polémica. Honestamente, não entendo o porquê. Quer dizer, consigo, mas não me faz sentido nenhum.

Tive a minha primeira menstruação aos 11 anos, ainda longe de ser mulher. A minha mãe já não menstrua, nem as minhas avós. Deixaram de ser mulheres? Diria que não. Tenho amigos homens trans que menstruam, não são mulheres. Conclusão, há pessoas que menstruam que não são mulheres, tais como meninas, homens trans ou pessoas não-binárias, assim como existem mulheres que não menstruam, tais como aquelas que têm algum problema de saúde, estão na menopausa ou são mulheres trans.

Estas situações existem na nossa sociedade, são reais, e não são uma minoria insignificante. Mas mesmo que fossem uma minoria muito minoritária, se existe um termo específico que abrange mais situações, sendo mais inclusivo e até mais correto do ponto de vista científico, porque não utilizar?

Eu, como mulher cisgénero, ou seja, que se identifica com o sexo biológico feminino atribuído à nascença, não me sinto minimamente melindrada ou diminuída por ver o termo “mulher” ser substituído por “pessoa que menstrua” numa campanha sobre menstruação, que, efetivamente, se dirige a pessoas que menstruam e não a mulheres. Porque, como já vimos, as duas coisas nem sempre ocorrem em simultâneo. E, por que razão haveria eu de sentir a minha identidade de género posta em causa ou ameaçada por algo que apenas procura abarcar mais pessoas?

A minha identidade como mulher prende-se muito pouco ao facto de eu menstruar. Aliás, diria até que se perguntassem a qualquer pessoa se gosta de menstruar, acredito que a grande maioria respondesse que não e que preferia não menstruar, caso não existissem consequências negativas para a sua saúde. Posto isto, tenho alguma dificuldade em entender aqueles que se sentem atacados e que alegam até o apagamento das mulheres como consequência da utilização desta expressão.

Acho engraçado constatar, pelo menos pelas redes sociais, que as pessoas mais descontentes com esta situação são precisamente aquelas menos afetadas pela mesma: os homens cisgénero. Claro que existem mulheres que não concordam com esta troca de terminologia e o expõem de forma bastante irritada. Mas diria que somos muitas mais as que percebem a importância da utilização de um termo inclusivo.

Para mim, esta troca de palavras demonstra uma evolução social importante e necessária, assim como uma maior consciência e sensibilidade para estas temáticas. E se, em vez de irmos espalhar verborreia para uma qualquer caixa de comentários de uma notícia sobre este assunto, refletíssemos sobre o motivo deste termo, “pessoas que menstruam”, nos fazer tanta confusão? Afinal, a campanha não se dirige, precisamente, a pessoas que menstruam? O que será que nos está aqui a faltar para entender este ponto tão básico e elementar? Será excesso de preconceito e falta de empatia? Desinformação, ódio? Não sei bem qual a resposta mais correta, mas, de qualquer das formas, sinto-me inquieta com a observação de que a utilização deste termo incomoda tanta gente. Fico mais apaziguada quando vejo tantos e tão bons comentários em contracorrente.

Espero, sobretudo, que este texto inspire à reflexão dos leitores. Sou mulher e pessoa que menstrua. Como portuguesa, sinto orgulho numa DGS evoluída e moderna, que utiliza os termos que já tantas organizações de saúde internacionais e mundiais utilizam.


  1. DGS. (Julho, 2024) – “Vamos falar de menstruação?”: DGS lança questionário. Disponível em: https://www.dgs.pt/em-destaque/vamos-falar-sobre-menstruacao-dgs-lanca-questionario.aspx ↩︎

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