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Todos os anos, após a realização dos exames nacionais do ensino básico e secundário — estes últimos, fundamentais no acesso ao Ensino Superior — surgem os famosos ‘rankings’ nacionais das escolas e colégios, que pretendem mostrar ao País aqueles que, sendo os melhor classificados, são vistos aos olhos da nação como a nata das natas dos estabelecimentos de ensino do País. No entanto, e como em todos os anos, este ‘ranking’ falha em valorar a externalidade familiar, social e cultural de cada estudante e estabelecimento de ensino: atirando, assim, essa externalidade para o lugar invisível.

É relativamente pacífico afirmar que o sistema atual não é o perfeito — refletindo-se, naturalmente, na imperfeição dos mecanismos de acesso ao ensino superior e da sua seleção. No entanto, e embora seja de salutar a existência de um mecanismo de comparação entre os sistemas públicos e privados e, entre si, as instituições de ensino que compõe essa família, a verdade é que construir esse termo de comparação alicerçado nos exatos mesmos critérios (sem quaisquer fatores de ponderação) fazendo crer que, destes, resulta um ‘ranking’ que espelha a melhor instituição de ensino em Portugal, torna-se uma conclusão falsa; enviesada e errada logo ab initio: os estudantes, no seu ponto de partida, não se encontram iguais; com os mesmos critérios ou, sequer, equivalentes.   

É papel do Estado — devendo ser um dos seus primordiais — garantir aos seus cidadãos que, independentemente do seu lugar — geográfico ou social —, os mesmos, na pista de tartan que é a vida, ao longo da sua corrida, terão essencialmente duas coisas garantidas: o mesmo ponto de partida e os mesmos ténis para correr. O ponto de chegada, a velocidade da corrida e as conquistas futuras dependerão apenas, e só, do seu empenho e mérito. Se assim não for, e neste caso, manifestamente assim não o é, todas as conclusões que se tirem — embora seja legítima a vontade de tratamento dessas informações — ficam inquinadas e enviesadas logo na sua primeira premissa, não devendo estas diferenças ser ignoradas aquando das conclusões apresentadas.

Não é correto — nem tampouco justo — seja para estudantes, professores, pais ou funcionários, fazer equivaler o desempenho de estudantes per se, olvidando (ou querendo olvidar…) o seu historial social e familiar. É muito diferente comparar aqueles que, chegando ao final do dia, encontram uma base forte e estruturada: um seio familiar sem problemas financeiros; um complemento às aulas com explicadores e centros especializados ou, até mesmo, que na sua casa encontram um sítio próprio para estudar, a outros que, findando as aulas no exato mesmo momento, encontram problemas (sociais, financeiros, culturais…) no seu seio familiar; falta de acompanhamento nos pós-aulas; partilha das preocupações da família com os problemas financeiros; ou até, o mais básico, a falta de um local próprio para estudar em casa. O mote é simples: as 24h do dia são para todos, mas nem todos temos as mesmas 24h do dia para usufruir e desfrutar. 

A escola pública aqui tem um papel que muitas das vezes os ‘rankings’ não deixam transparecer (e teimam em querer esquecer). Fazendo das tripas coração, utilizam até ao limite os seus recursos humanos e materiais, todos os mecanismos ao seu dispor para, num mundo intrinsecamente desigual, serem o farol de esperança que alumia os estudantes e lhes mostra que há futuro e que este está nas suas mãos: são o verdadeiro elevador social apregoado e necessário a que o Estado não se pode imiscuir e que nós não podemos desconsiderar. 

Isto mesmo não pode esquecer o ‘ranking’ anual no seu raio-X habitual sobre o estado da educação em Portugal e sobre a qualidade — maior ou menor — das instituições de ensino que avalia. Correr, desde logo, com calçado — e ainda mais caso este seja adequado — ou descalço, é diametralmente diferente. Se é verdade que, no primeiro caso, o corredor não deve ser prejudicado pela sua condição natural (a de estar calçado), também verdade é que, no segundo caso, este não deve ser prejudicado pela suposta (e falsa!) existência de uma igualdade na que é englobado — deve, pois, a este último, ser providenciado meios para, de forma efetiva, em condições iguais, disputar lugares iguais. 

O ‘ranking’ apenas valerá como tal, quando este lugar invisível estiver preenchido de igualdade e equidade — de condições físicas (e humanas) onde a diferenciação se faça pelo estudo e esforço individual e não por externalidades facilitadoras para uns, e impossibilitantes para outros.

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