Será machismo? Ou será, antes, educação tradicional?

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Antes de mais, quero esclarecer aqui que o machismo não é, de todo, bom. A definição de machismo é, em termos gerais, a diminuição ou desprezo pela mulher em qualquer área, e ao longo deste texto será esta a definição pela qual me regerei.

Comportamentos machistas devem ser punidos socialmente ou por lei, no entanto, existem nuances na identificação de alguns comportamentos que podem suscitar um debate construtivo sobre o tema, sendo este o meu objetivo.

Um exemplo deste tipo de comportamentos será quando o homem caminha do lado de fora do passeio na companhia de uma mulher, independentemente do tipo de relação que com ela nutre. Na minha ótica, este comportamento tem por base a expressão de carinho e preocupação pelo bem-estar da pessoa que segue do lado de dentro do passeio. Só mais tarde, ao debater o assunto, me apercebi que, além de eu ter sido assim educado, concordo com a explicação oferecida para este comportamento: o homem é, em média, fisicamente mais forte do que a mulher e, por isso, faz sentido que vá do lado de fora do passeio.[1]

Sei que de outros pontos de vista isto pode ser encarado como machismo, porque a mulher não precisa de proteção e que seria apenas uma maneira disfarçada dos homens se sentirem superiores à mulher. Porém, acredito que existem aspectos que a sociedade atual define como sendo machistas, mas que simplesmente provêm de uma educação tradicional e que não são necessariamente tóxicos para o coletivo.

O exemplo que acabo de referir ilustra uma destas situações, ou também, outro exemplo, o homem que ambiciona tomar conta da família financeiramente. São casos que deveriam ser vistos como qualidades e sinais de uma boa educação, e não necessariamente como fruto de uma educação assente em ideais machistas. De outra forma, não existiria a distinção entre os conceitos de cavalheirismo e machismo.

Além disto, podemos também pensar num contexto de guerra. Na Ucrânia, os homens não tiveram escolha e tiveram de ficar. As mulheres não. Elas puderam escolher, apesar das suas aptidões serem frequentemente postas em causa.[2] E com isto não digo que seja justificável questionar as suas capacidades; não é. Mas não deixo de notar que, ao pesquisar na internet “desigualdade de género na linha da frente da Ucrânia”, surgem várias notícias alertando para a discriminação das mulheres que querem participar na guerra e que, no entanto, não existe nenhuma (pelo menos na primeira página de pesquisa do Google) sobre a discriminação dos homens, que se veem forçados a ficar no país. Entre ser obrigado a participar na guerra ou ter a opção de não ir… Não acham que existe aqui também uma desigualdade de direitos?

O conceito de machismo serve, nos dias de hoje, para qualificar as mais diversas situações, quando, por definição, esta palavra tem um peso maior do que muitos dos casos onde é utilizada. Se as mulheres antigamente não podiam ir à guerra, era machismo ou privilégio? Se o homem quer tomar conta da família financeiramente, é machismo ou carinho e afeto?

Depende muito de como a pessoa vê a situação, mas pegando no exemplo da guerra, a conversa pode ter duas frentes. Por um lado, entendo que amputar o poder de escolha quer das mulheres, quer dos homens é injusto. Mas ao ampliar e perceber que a escolha é a de se sacrificar, isto tendo em conta que a probabilidade de morrer na guerra é alta, chega-se à conclusão de que existem alguns direitos “melhores” do que outros.

Talvez isto seja apenas a minha visão, e posso admitir o erro caso esteja errado. Mas pelo que observo, há tantas mulheres que hoje em dia são mais contra os homens do que propriamente a favor da mulher – o que nos leva a perguntar se iremos passar de um extremo para o outro, porque a lei da vingança assim o dita, ou se iremos finalmente aprender com o passado e não submeter nenhum dos géneros à repressão.

Posso adiantar desde já a minha previsão. Acredito que o caminho que se está a tomar seja no sentido de oscilar de um extremo para o outro. Basta observar o caso dos Estados Unidos, que acusam a existência de uma ‘rape culture’ – que se define por uma educação onde violar ou não punir quem viola é normalizado – e que insinuam que a culpa é dos homens, porque podemos andar sozinhos na rua à noite, ou, adicionalmente, um caso bastante conhecido, o movimento MeToo, que acredita primeiro na vítima, gerando controvérsia, como já deu para ver.[3] Este tipo de extremismos faz-se notar substancialmente em movimentos contra o homem, que diferencio dos movimentos a favor da mulher.


[1] Fortes, M. S. R., Marson, R. A., & Martinez, E. C. (2015). Comparação de Desempenho Físico entre Homens e Mulheres: revisão de literatura. R. Min. Educ. Fís., 23,(2), pp. 54-69. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/revminef/article/view/9964/5499
[2] Euronews. (2024, 8 de março). Militares ucranianas também lutam contra a desigualdade de género na linha da frente. Disponível em: https://pt.euronews.com/2024/03/08/militares-ucranianas-tambem-lutam-contra-a-desigualdade-de-genero-na-linha-da-frente
[3] Robinson, Tamirah. (2018). The #Metoo Controversy. Undergraduate Research, 35. Disponível em: https://digitalcommons.lasalle.edu/undergraduateresearch/35

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