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Inúmeras são as vezes em que ouvimos as gentes descrever Portugal como um país de estrangeiros. Confesso que não é a frase em si que me desperta curiosidade, mas sim o porquê por de trás que me causa alguma dúvida. Será que o dizem por ser o turismo tão importante para a economia do país? Será que é um modo de criticar os estrangeiros que aqui encontram o seu lar? Ou será que se limita a ser uma crítica dirigida aos governos e ao seu modo de lidar com a situação privilegiando os imigrantes e, por vezes, os turistas, não constituindo propriamente uma oposição aos mesmos?

Na verdade, parece-me um pouco das três, e talvez ainda mais algumas que não me tenham vindo à cabeça. Por um lado, e como em tudo na vida, tendemos a criticar os demais quando não nos sentimos bem com algo. Com isto quero dizer que, perante uma situação de dificuldade económica, temos tendência a culpar o Estado, o que também não posso afirmar estar completamente errado, uma coisa não é completamente independente da outra, mas também não posso dizer que acredito ser o Estado o único responsável. Por outro lado, é evidente, perante a lei da oferta e da procura, que quanto maior a procura, maior será o valor, neste caso, da alimentação, da habitação e tudo o resto que temos vindo a reivindicar. É verdade que se os comerciantes não tivessem quem comprasse e os serviços não tivessem quem consumisse, teriam de reduzir os preços. Havendo quem ganhe mais e venha para Portugal aproveitar, é permitido aos comerciantes e aos serviços que não haja essa necessidade. Além disso, sejamos honestos, muitos são aqueles que, mesmo estando em situações mais preocupantes a nível económico do que há uns aninhos, continuam a consumir como se esse não fosse o caso. De qualquer modo, parece-me que o principal problema é a população portuguesa sentir que o país é, neste momento, mais adequado a estrangeiros do que aos seus cidadãos.

Como tal, os indivíduos revoltam-se, reúnem-se, protestam. Não aceitam que os turistas e os imigrantes possam ter tantos privilégios, é preciso limitar os hotéis, os alojamentos locais, os incentivos… Mas será que a revolta é porque existem apoios e alguns privilégios para os outros, ou porque nós não temos tantos quanto gostaríamos? Como disse, temos a natural tendência de culpar os outros quando as coisas não parecem correr como queremos.

De um outro prisma, pensemos nos principais problemas, tais como o envelhecimento da população devido à baixa natalidade e à elevada emigração jovem e a necessidade de dinamização da economia. Será que a imigração não os permitirá resolver? Contudo, também é verdade que o aumento do custo de vida tem-se revelado um dos principais problemas, se não o importante, da sociedade portuguesa, e nisso temos de perceber que o turismo prejudica.

De qualquer modo, como em tudo, existem prós e contras. Não podemos afirmar que o elevado número de estrangeiros presente em Portugal prejudique por completo os portugueses, se em tanto também auxilia, pelo que também não devemos procurar a salvação de um país apenas nos estrangeiros.

Com esta reflexão não pretendo, nem tenho como, chegar a uma opinião e opção ideais. Apenas questionar o modo como pensamos em Portugal como um país de emigrantes.

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