Não é segredo para ninguém que o dia 7 de novembro de 2023 marcou o início de uma das maiores crises políticas que o nosso país já presenciou, não só pela menção de António Costa num dos processos mais escandalosos da política nacional, mas também pelo facto dessa mesma menção ter levado a uma demissão do primeiro-ministro sem que antes fossem apresentadas mais informações sobre o processo em causa. Apenas um parágrafo serviu para ditar o futuro da nação e apenas um parágrafo poderá deitar por terra o prestígio e a credibilidade do nosso sistema judiciário. Caso não se comprovem as evidências que levaram à demissão de António Costa, a justiça portuguesa perderá (ainda mais) a sua credibilidade, levando a uma desconfiança total, por parte dos portugueses, nas instituições judiciais do nosso país.
Estaria a ser pouco verdadeiro se afirmasse que Portugal não é um país corrupto, porque todos sabemos que, independentemente do partido que se defenda, a corrupção está há muito presente na esfera política nacional. Não é necessário olhar para o governo para percebermos isto. Infelizmente, a “cultura da cunha” é uma prática comum em todos os setores da nossa sociedade, quer a natureza do favor esteja relacionada com a exploração de lítio ou até mesmo com a administração de um medicamento de 4 milhões de euros num qualquer hospital público do nosso país. A corrupção e os favorecimentos são, por isso, ações que condeno vivamente, devendo ser punidas por lei, sempre que acompanhadas por provas e evidências bem fundamentadas. Infelizmente, e como tenho referido ao longo destes dias, não é admissível que o futuro do país seja posto em causa devido a um parágrafo pouco transparente, que em nada elucida os portugueses sobre a envolvência do primeiro-ministro nos casos em investigação.
Relativamente a este processo, a justiça ditará o futuro de António Costa, no entanto, a minha preocupação está de facto em qual será o futuro do nosso país. Perante um Partido Socialista fragilizado com mais um escândalo, a percorrer um caminho para encontrar um sucessor para António Costa; um Partido Social Democrata completamente fragmentado, com uma vontade de poder que se sobrepõe à capacidade de apresentar propostas efetivas para o país; um Chega em constante crescimento, que dentro das suas habituais incoerências lá consegue atrair o eleitorado descontente; uma Iniciativa Liberal que vive na utopia perfeita do liberalismo, à espera de validar um governo dirigido pelo PSD; um Bloco e um PCP perdidos no tempo, esperançosos que algum eleitorado do PS veja nestes partidos uma opção política válida; perante uma classe política completamente fragilizada, será muito difícil garantir uma estabilidade política nos próximos anos.
O ano de 2024 trará, certamente, grandes desafios para todos os portugueses, no entanto, serão desafios que virão acompanhados pela marca da governação socialista nestes últimos anos: o maior aumento de sempre do Salário Mínimo Nacional, o aumento médio das pensões, medidas históricas de apoio aos jovens, com o IRS zero e redução das propinas, a expressiva redução do défice e o reforço dos apoios sociais. Por tudo isto, é importante que das próximas eleições resulte um Governo de Esquerda.
Imagem de capa: McCarthy/WebSummit, sobre licença Creative Commons
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