Em pleno século XXI, os jovens têm à sua disposição diversos instrumentos de participação cívica e política, que os faz alargar horizontes e ganhar, efetivamente, experiência e consolidar competências, por vezes, desconhecidas, mas existentes em si mesmos. Vivendo nós numa democracia parlamentar, onde o Estado assume as suas funções de soberania, mas também sociais e culturais, os cidadãos têm, paralelamente, a possibilidade de participarem e de se envolverem no processo antecedente à verdadeira tomada de decisão. Desde que surge um problema público, este passa por diferentes etapas, que incluem, certamente, múltiplos stakeholders que, entre outros objetivos, visam influenciar a decisão política.
Ora, os jovens, atualmente, com o seu progressivo nível de formação superior, frequência de programas Erasmus, programas de estágios curriculares e profissionais, facilidade de acesso e utilização da informação através da internet, inserido num mundo paulatinamente mais global, onde prepondera a governança em rede, diria que o seu envolvimento na esfera política não se dá mais por alguns fatores. O desinteresse por questões partidárias, por descrença nos atores e instituições a si afetos, por mudanças ocorridas na sociedade civil que os alarma e preocupa, por considerarem que os partidos políticos não contribuem seriamente para a verdadeira resolução das questões de interesse coletivo. No entanto, existem outros atores relevantes e não de somenos importância, como os sindicatos, associações sindicais, empresas e confederações patronais, que servem precisamente para partilhar esse poder de decisão, e que por vezes é desvalorizado, por se associar à doutrina de esquerda ou de direita.
A participação dos jovens não é, tal como possa parecer, nula ou deficitária, apesar da constatação de que os mesmos não estão desacreditados na política, pois é impossível está-lo, visto que se trata da atividade mais nobre do ponto de vista coletivo e do bem comum, sendo transversal a diferentes tipos de Estado e formas de governo. Eles estão antes desacreditados nalguns elementos do sistema político, como sejam, os atores e instituições (partidos políticos, governo, parlamento). A verdade é a de que com a intensificação da mais recente crise social na habitação e na saúde que avassala Portugal nos últimos tempos, os mesmos saem à rua para reivindicar os seus direitos, manifestando-se contra o status quo, desejando uma mudança rápida nas condições de vida e de trabalho, seja no domínio do ensino superior com a preocupação clara face ao alojamento e ação social, seja com a importância que atribuem a causas como o clima ou as questões da igualdade entre homens e mulheres. Note-se que, em muitos destes mecanismos de luta e reivindicação, se encontram jovens com ideias bastante arreigadas e muito consolidadas do ponto de vista dos seus ideais e pontos de vista práticos.
Ora, o exemplo mais paradigmático neste tópico reside no orçamento participativo jovem do município de Cantanhede, em que aderiram ao mesmo diversos jovens, criando equipas para apresentar projetos distintos, mas com um objetivo comum – contribuir para o progresso coletivo e bem comum do concelho, a par da preocupação com os jovens e a sua voz, aparentemente anulada nalguns casos, fruto de não auscultação dos seus problemas e anseios.
O orçamento participativo jovem do município de Cantanhede contribuiu efetivamente, enquanto mecanismo de participação política local, entre outros, como a participação em assembleias de freguesia, assembleias municipais, integração em juventudes partidárias, fóruns de discussão aberta promovidos pelas estruturas partidárias ou organizações da sociedade civil, para uma genuína participação cívica e política dos jovens (organizadores) e dos jovens recetores, pois permitiu, por um lado, a contribuição de ideias distintas entre os mesmos para a criação de projetos direcionados ao bem comum / interesse coletivo do concelho, como por outro, concedeu a possibilidade a quem dele não participou diretamente de usufruir dos seus benefícios, com a aquisição de conhecimento, troca de experiências, conhecimento de novas pessoas, networking, aquisição e consolidação de novas competências, o que se revelou altamente produtivo, sob o ponto de vista político, social e humano.
Deixo o repto aos jovens do concelho e a outros que abracem novos desafios com gosto, determinação, motivação e coragem, pois como disse Ralph Waldo Emerson: “Sem entusiasmo nunca se realizou nada de grandioso”. Eis a regra de ouro para concretizar algo aparentemente complexo, mas que ao fim ao cabo se faz: trabalho, rigor e organização.
Pintura de capa por Honoré Daumier
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