Estou sentado numa esplanada, quando ouço numa das mesas adjacentes, o seguinte comentário:
– “Não sei porque não te sentes bem contigo, até estás bastante bonita”.
Isto levou-me a pensar acerca de um dos assuntos da moda: a auto-estima.
É interessante verificar que todas as pessoas têm receitas para dar acerca da auto-estima alheia, mesmo que na verdade, nem sempre se tenham a si mesmas em grande conta. Talvez por isso a mesma pessoa tenha comentado de seguida:
– “Quem me dera ser como tu, eu é que tenho razões para me sentir mal”.
Toda a gente já assistiu, ou participou nestes campeonatos de auto-estima, de onde raramente se sai vencedor, porque existe sempre qualquer coisa nos oponentes que parece digno de ser mais valorizado e apreciado.
Apesar das tentativas, a auto-estima não depende do aspecto que se tem, nem tampouco das qualidades ou atributos individuais. É algo que diz respeito ao grau em que as qualidades e características que cada um percebe em si são encaradas como positivas.
A auto-estima desenvolve-se na infância, e depende em grande medida do grau e qualidade do investimento afectivo que a criança recebe por parte dos seus cuidadores. Assim sendo, é algo de intrínseco, que não depende daquilo que cada se tem nem daquilo que se parece, mas sim daquilo que cada um percebe e sente acerca de si mesmo.
Perante isto é pertinente questionar o seguinte: o que fazer quando alguém refere ter pouca auto-estima?
Paradoxalmente, nestes casos, elogiar ou fazer comentários abonatórios, não tem qualquer efeito positivo na auto-estima, podendo mesmo ter um efeito contrário, levando a pessoa elogiada a afastar-se ou sentir-se incompreendida.
Por exemplo, comentários como “estás bonito”, “tens tudo para ser feliz”, “tens um bom emprego”, “tens uma família linda”, não acrescentam qualquer sensação de valor próprio às pessoas com baixa auto-estima.
Isto acontece porque, quando ouvem elogios, estas pessoas tendem a interpretá-los desta forma: “se realmente me conhecesses e soubesses como me sinto, não dizias esse tipo de coisas a meu respeito”.
Esta é uma das razões pelas quais na psicoterapia nunca se aplicam as célebres palmadinhas nas costas, não se fazem elogios, nem se têm conversas de amigos.
A Psicoterapia não é um local para conversas de esplanada. É um espaço onde cada um tem oportunidade de ver de forma diferente, olhando para dentro, ao ponto de colocar a si mesmo questões como esta:
– Por que razão existirá dentro de mim esta sensação de estranheza, que me faz sentir inseguro e desconsolado com aquilo que sou?
A auto-estima não é um produto instantâneo, nem algo que se assemelhe a comida fast-food. Também não aumenta com recompensas externas, nem é algo acerca do qual as outras pessoas possam oferecer uma dose. Pelo contrário é algo que leva tempo a solidificar e tornar-se resistente.
Começa como se fosse uma semente lançada à terra na infância por uma espécie de agricultores que a vão cuidando. Lentamente vai ganhando raízes, que buscam o seu alimento na sensação de segurança, que por sua vez gera as oportunidades de sucesso, que mais tarde serão promotoras da confiança necessária para que cada um olhe para si com satisfação e prazer.
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