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“Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível, é a música”
– Aldous Huxley

Assim como na música o silêncio entre as notas marca o ritmo, e na arquitectura os espaços vazios dão forma às estruturas, também aquilo que de mais verdadeiro existe no interior de cada um, se manifesta muitas vezes através do seu silêncio.

Isto acontece porque naquilo que de mais íntimo existe dentro de nós, onde existem silêncios, habitam pessoas, ou memórias, factos, traumas, emoções à espera de serem reveladas, ressentimentos ou culpas. O silêncio não é um espaço vazio.

Existem sentimentos que são de tal forma dolorosos, que se pensa ser melhor guardá-los para sempre em baús secretos, fechados a sete chaves, em silêncio. No entanto, as emoções podem revelar-se de formas muito subtis, quase imperceptíveis, por vezes até disfarçadas ou invisíveis para os menos atentos.

É assim que na Psicoterapia, o doloroso espreita muitas vezes pelas portas entreabertas do silêncio, destapando desta forma o véu que oculta a verdadeira natureza do sofrimento individual. É tarefa do Psicoterapeuta descodificar os silêncios dos seus pacientes, sem qualquer interrupção ruidosa da sua natureza reveladora. Só assim se conseguem escutar determinados sentimentos, que se expressam através dos silêncios, ou as necessidades e desejos que tentam manifestar-se através da ausência de palavras.

Para compreender, basta ficar em silêncio (o silêncio pode ser encorajador), tentando apenas escutar o silêncio do Outro… isto por si só, pode ter um tremendo poder transformador.

Na Psicoterapia, o silêncio é a forma mais pura de revelação emocional. Este é sempre propriedade privada, acontece por determinadas razões e em determinados momentos, não por acaso ou falta de palavras para se expressar, mas porque foi naquele momento específico que alguém decidiu remeter-se à ausência de expressão e, desta forma, escancarar as portas do seu sofrimento. Isto acontece porque aquilo que dói, tem o poder de silenciar a voz da razão.

Na Psicoterapia,o que não é dito, tem assim um valor superior ao de muitas palavras que nem sempre conseguem definir ou exprimir quão distinta e avassaladora pode ser a experiência humana do sofrimento.

Em silêncio, o indizível não pode ser ressignificado, contextualizado, suavizado e, por isso, mantém-se sempre assustador, paralisante, indizível, silencioso.

Mas é verdade que existe quem não tolere o silêncio (talvez pela sua natureza reveladora) e tente desesperadamente preenchê-lo. O silêncio pode ser tão assustador como o vazio, gerando o mesmo tipo de angústias e medos, como bem expressa Dostoiévski:

O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas.
Mas é isso o que tememos: o não ter certezas.”

O Psicoterapeuta é por isso também um intérprete, um tradutor de silêncios, um companheiro de viagem, mas não um guia, colaborando na tarefa de pensar, dar um nome e um significado ao que nem sempre pôde ser pensado, recordado, sentido ou vivido na sua plenitude.

É desta forma que muitas vezes o paciente se permite sofrer o sofrimento de forma segura, e libertar-se das amarras sufocantes do silêncio e do medo que o impediam de expandir a sua criatividade e capacidade de pensar e viver.

Na realidade, quando se interrompe o silêncio sobre os aspectos emocionais dolorosos, todo o potencial de realização e felicidade pode enfim libertar-se.

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