Nos dias de hoje, é conhecido um número gigante de suplementos alimentares, com vários graus de validade científica e segurança para a saúde de quem os deliberadamente consome. Descrevendo de forma simples, os suplementos alimentares são géneros alimentícios, pois podem fazer parte da alimentação, com algumas especificidades que os distinguem dos alimentos e bebidas convencionais, desde logo por poderem ser comercializados em forma doseada e por apresentarem uma concentração específica de uma substância escolhida, com uma legislação própria.
Há várias razões para ponderar a suplementação, e, por isso, também os suplementos podem ser divididos consoante a sua aplicabilidade. Temos aqueles que são consumidos de forma a corrigir défices nutricionais, como é o caso dos multivitamínicos e da suplementação numa vitamina ou mineral em específico. Temos outros, ditos ergogénicos, que melhoram a performance de um atleta, profissional ou amador, como é o caso da creatina, da beta-alanina, do bicabornato de sódio, da cafeína e dos nitratos (‘The big five’). Por outro lado, a proteína ‘whey’ é, muitas vezes, considerada devido ao seu alto valor biológico e praticidade. E, por fim, diria que temos uns que se encontram numa zona cinzenta ainda por definir porque, apesar de prometerem muita coisa, a evidência ainda não consegue demonstrar eficácia e, muito menos, segurança, na sua toma.
É aqui que o discurso pode tornar-se aborrecido, pouco apelativo e até arcaico para aqueles que procuram (e para os outros que prometem) milagres em forma de comprimidos. Perceber a motivação por de trás da toma de qualquer suplemento é fundamental para se compreender o contexto individual da pessoa e quais as expectativas (muitas vezes, irrealistas) à volta da suplementação. Até porque, verdade seja dita, a grande parte da população não precisa sequer de qualquer suplemento. E mesmo aqueles suplementos que apresentam evidência científica sólida – ‘The big five’ – não fazem sentido para todas as populações. Por isso, reforço mais uma vez a importância do contexto individual.
Ainda que muitos destes suplementos sejam adquiridos em sites conhecidos e que, na teoria, haja algum grau de confiança, pelo menos, na forma como são produzidos e comercializados, há outros que são adquiridos em sites underground ou ervanárias onde não há qualquer tipo de controlo ou selos de qualidade. Isto só aumenta o perigo de, para além de se poder estar a tomar algo que nem é aquilo que diz ser ou nas quantidades descritas, esse mesmo suplemento poder estar contaminado com alguma substância potencialmente perigosa.
Se, para a população dita comum, é um mal menor, quando falamos em atletas profissionais sujeitos a testes antidoping o assunto torna-se mais sério. Infelizmente, o mundo do desporto é ainda muito fértil para a falta de informação. Se, por um lado, consigo compreender que a ínfima possibilidade de melhoria de performance pela toma de um suplemento seja bastante tentadora num mundo tão competitivo, há que alertar que existe sempre o reverso da moeda, com perigos que poderão colocar a saúde de pessoas e suas carreiras em risco.
Como nutricionista com destaque na área desportiva, que trabalha com atletas profissionais, e que também treina de forma consistente há anos, ainda assim, preocupa-me tomas crónicas de suplementos sem qualquer tipo de validade científica e supervisão profissional. Ainda há muita desinformação e, sobretudo, expectativas exageradas em relação a um suplemento.
Compreendo que um suplemento com dez por cento de desconto, por exemplo, torna-se muito mais apelativo e interessante do que toda a logística necessária para se concretizar uma rotina de alimentação equilibrada e exercício físico regular, mas a frustração a médio/longo prazo do dinheiro investido sem resultados aparentes é substancialmente maior. A saúde – mesmo que associada à estética – tem que ser vista como um investimento e não como um gasto desmedido.
Pintura de capa por Fede Galizia
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