Há mais de uma década, troquei o escritório convencional por um portátil e uma mochila, e embarquei numa jornada de trabalho remoto que me tem levado a lugares fantásticos que nunca imaginei poder conhecer.
Sou designer gráfica e tive a sorte de poder levar o meu trabalho comigo para qualquer parte do mundo. Além disso, partilho esta vida com o meu namorado, Gonçalo, que me acompanha sempre nas viagens. Ele também é designer e fotógrafo, e juntos vivemos a experiência única, repleta de desafios e oportunidades, de ser viajantes que trabalham remotamente. No início, esta aventura era sempre com um orçamento apertado. No que diz respeito ao trabalho, fazíamos mais com menos: hospedávamo-nos em hotéis duvidosos, trabalhávamos em cafés com Wi-Fi instável, e raramente dormíamos em camas confortáveis, mas a emoção de explorar um novo destino compensava o desconforto.
Já lá vão vários anos desde que começámos e com o crescimento profissional tornou-se claro que ter boas condições para trabalhar é imprescindível. Hoje em dia, com mais experiência e estabilidade financeira, conseguimos viajar de forma mais confortável enquanto mantemos a mesma flexibilidade. Escolhemos alojamentos com melhores condições de trabalho, quase sempre em hotéis, visto que não costumamos ficar longos períodos num só lugar. Ao contrário do clássico exemplo de nómada digital que se instala muito tempo numa cidade só, nós preferimos saltar de um destino para outro, o que nos permite explorar mais, mas também implica a necessidade de nos adaptarmos rapidamente a cada nova realidade.
Independentemente do lugar onde estamos, seguimos sempre o fuso horário de Portugal. Por exemplo, se estivermos no Japão, desfrutamos da manhã e da maior parte da tarde para explorar, começando o dia de trabalho ao final da tarde, quando em Portugal ainda é manhã. Por outro lado, se estivermos no Chile, acordamos cedo e temos a tarde livre para passear. Esta rotina tem sido essencial para mantermos um bom equilíbrio entre o trabalho e a nossa vida pessoal e é, na minha opinião, a maior vantagem de trabalhar remotamente enquanto viajamos.
Infelizmente, ser viajante remota não tem só aspetos positivos. A liberdade que esta vida proporciona também traz alguns desafios e implica uma grande responsabilidade, tanto em relação ao nosso trabalho como aos lugares que visitamos. Um dos temas mais discutidos atualmente é o impacto do turismo massivo nas cidades e comunidades locais. Por exemplo, em cidades muito procuradas por nómadas digitais, como Lisboa ou Bali, o aumento da procura de alojamento por parte de estrangeiros tem contribuído para a inflação dos preços, tornando o custo de vida mais elevado para os locais. Isto faz-nos refletir sobre o nosso papel nesta dinâmica, por isso procuramos sempre escolher alojamentos que não contribuam para a especulação imobiliária e tentamos gastar o nosso dinheiro em negócios locais, para apoiar diretamente as comunidades.
Outra questão que me preocupa é o impacto ambiental do meu estilo de vida. Apesar de ter uma alimentação e estilo de vida veganos, melhor para os animais e para o ambiente, viajar constantemente implica uma pegada de carbono significativa. Ainda que tente mitigar isto ao máximo, não consigo escapar aos voos frequentes… O que para mim até seria ideal, devido à minha fobia de voar! Tentamos viajar por terra sempre que possível, mas devido às distâncias, trabalho e disponibilidade nem sempre é possível.
Talvez parta de um fundo egoísta, ou talvez seja só a natureza do ser humano, mas parar é um compromisso que não quero fazer por agora. Ainda assim, creio que o importante é dar o meu melhor, sabendo admitir que não sou perfeita. Para mim, o mundo é um livro e eu quero ler todas as páginas. Viajar abre os meus horizontes e poder fazê-lo tão frequentemente é um privilégio que tento aproveitar ao máximo, sempre consciente do impacto das minhas escolhas.
Pintura de capa por Winslow-Homer
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