A Luta Invisível: prevenção do suicídio

Tempo de leitura: 5 minutos

Suicídio, ato através do qual o indivíduo, de forma intencional, pretende colocar termo à vida, acabando por falecer, resultado de um conjunto de práticas concebidas com esse propósito. 

Este ato é extremamente violento e doloroso, tanto para quem o comete, como para aqueles que rodeiam a vítima, que têm de aprender a viver sem a presença de alguém querido. Em muitos casos, as vítimas não querem efetivamente morrer, mas sim encontrar uma forma possível para que o seu sofrimento desvaneça rapidamente. Não é, por isso, um comportamento revelador de cobardia ou fraqueza, como por vezes é designado.

Anualmente, cerca de 800 000 pessoas morrem por suicídio, perfazendo uma morte a cada 40 segundos1. Façamos um simples exercício: se demorar 5 minutos a ler este artigo, cerca de 7 pessoas cometeram suicídio, assustador? Deveras. Em Portugal, estima-se que morrem três pessoas diariamente, vítimas de suicídio, mas como as causas destes óbitos nem sempre são assumidas, os números efetivos poderão ser mais elevados. 

Antes de colocar termo à vida, é importante lembrar que esta vontade não é constante e oscila ao longo do tempo, começando com pensamentos e sentimentos suicidas, podendo ter numerosas motivações. Estes pensamentos encontram-se relacionados com a morte em geral, inclusive a elaboração de planos detalhados para atingir essa finalidade. Nem todas as pessoas com pensamentos suicidas chegam a adotar este comportamento, mas, constituindo-se como um fator de risco, é imperativo haver um acompanhamento psicoterapêutico especializado, para evitar que tais catástrofes aconteçam.  

Em determinados relatos, as vítimas parecem possuir uma vida estável e prazerosa em todos os seus domínios, financeiro, familiar, laboral, mas então, porque decidem pôr termo à sua vida?

Os atores Pedro Lima, Luís Aleluia e a manequim Ana Afonso são apenas algumas figuras exemplificativas deste fenómeno. No entanto, alguns casos públicos optam por não revelar a real causa de morte, bastando apenas uma breve pesquisa para verificar que detinham problemas de saúde mental e, em alguns casos, historial de tentativas de suicídio, que sempre acabavam por ser impedidas.

Quando se trata de um suicídio, a causa da morte é asfixiada com os fundamentos de que a sua divulgação reacenderá gatilhos a um público-alvo psicoemocionalmente fragilizado, ou pelo dever moral de proteger as famílias e amigos das vítimas.

Portugal apresenta valores absolutamente aterradores face ao número de suicídios verificados, destacando a importância da prevenção. Ora vejamos, em 2020 faleceram 944 pessoas e, em 2021, 928. Ainda que o número tenha diminuído, constitui-se como a segunda causa de morte dos jovens de idades entre os 15 e os 34 anos.

Estes dados reforçam, novamente, a urgente necessidade de existirem mais campanhas de prevenção de suicídio, especialmente junto dos jovens que cada vez mais exercem comportamentos autolesivos, como forma de integração em grupos, ou como mecanismo para atenuar o sofrimento emocional que sentem. Contudo, desengane-se quem pensa que apenas os jovens merecem atenção, porque estudos atuais dedicados à avaliação deste fenómeno na população envelhecida concluem que também aqui os números têm aumentado, estando igualmente associados a fatores de risco já conhecidos, como a presença de sintomatologia depressiva ou outra perturbação mental e/ou o consumo abusivo de álcool e de outras substâncias. 

Se existem campanhas de combate ao consumo de álcool e contra a violência doméstica, porque não existem campanhas de combate ao suicídio? Omitir o fenómeno do suicídio incrementa o estigma social, e assume-se como um erro gritante. A discussão acerca do tema não encoraja a população a fazê-lo, antes faz com que as pessoas deixem de camuflar o facto de evitarem falar acerca do mesmo.

Quanto maior a discussão e referência do tema, mais amparadas as pessoas que se encontram nesta situação se sentem, auxiliando neste processo de estabilização psicoemocional. A referência de casos reais faz com que possíveis vítimas não se sintam sozinhas nesta caminhada e entendam q​ue o sofrimento e falta de esperança que sentem são igualmente partilhados por terceiros. Todavia, a abordagem do suicídio deve ser cautelosa ao invés de leviana, por se tratar de um assunto de extrema delicadeza e cujo objetivo é manter o bem-estar das possíveis vítimas e afastá-las desta tragédia.

Aqueles que se encontrem no círculo de pessoas com ideação suicida têm um papel preponderante na prevenção destas ocorrências. Deste modo, é importante atentar às necessidades que vão surgindo, às mudanças de rotinas e hábitos, às alterações de humor, e aos desabafos que podem ser indicadores da necessidade de uma intervenção psicológica especializada.

Por outro lado, devemos olhar frequentemente para nós mesmos e atender à nossa capacidade de introspeção, de forma a recorrer a ajuda complementar, sempre que seja necessário, o que é um ato de enorme bravura. Ainda muito se duvida desta ciência invisível que estuda o comportamento humano – Psicologia –, mas por variadas vezes é esta a responsável pelo salvamento daqueles para quem a esperança já não existe. 

Para finalizar, aconselho todos os leitores interessados a monitorizar a sua saúde psicológica, através do preenchimento anónimo da ‘Checklist’ “Como me Sinto?”2 desenvolvido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, que faz um breve resumo de como se encontra a sua saúde psicológica. 

Lembre-se, uma palavra ou um ato de carinho verdadeiro, no momento certo, pode fazer toda a diferença.

Linha SOS voz amiga
Linha de apoio emocional e prevenção ao suicídio
213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660
(diariamente das 15h30 às 00h30)


  1. World Health Organization – Suicide. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/suicide ↩︎
  2. Ordem dos Psicólogos. “Checklist para adultos – Como me Sinto?”. Disponível em: https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/documentos/checklist_adultos.pdf ↩︎

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