No dia 9 de junho, a nova configuração quinquenal da representação portuguesa em Bruxelas foi apresentada. Os partidos nacionais confederados no grupo da esquerda europeia (The Left), o BE e PCP, elegeram 1 deputado cada, enquanto o Livre e o PAN, afiliados aos verdes e regionalistas (Greens/EFA), não obtiveram os resultados necessários para concretizar o mesmo objetivo. Como estreia, tivemos os liberais e centristas (Renew Europe) e a direita radical e nacionalista europeia (ID) a receberem, pela primeira vez, respetivamente, delegações de dois eurodeputados portugueses pela IL e o Chega. Entre as duas principais forças políticas nacionais, o PS atinge 8 mandatos para a aliança de centro-esquerda (S&D) e a AD consegue 7 para o principal grupo político europeu, os democrata-cristãos (EPP). Com a oposição socialista portuguesa a assegurar vantagem sob eleição de um eurodeputado, face à coligação governamental de centro-direita, que na mesma noite eleitoral comprometeu-se a apoiar António Costa a presidir o Résidence Palace. Contudo, estes resultados correspondem meramente a 21 dos 720 assentos europarlamentares, uma pequena fração daquilo que definirá a agenda europeia nos próximos 5 anos.
Um mês após os resultados eleitorais e neste início de uma nova conjuntura europeia, a grande coligação europeia formada pelos três principais grupos centristas do Parlamento Europeu (EPP, S&D, Renew Europe) demonstra ainda possuir capacidade de harmonização e compromisso político, normalização esta que vem em contracorrente relativamente às expectativas de um Parlamento Europeu mais radicalizado e à aproximação estratégica do EPP com o grupo político nacional-conservador dos Reformistas e Conservadores Europeus (ECR), integrado por forças políticas como o polaco PiS e o italiano Fratelli d’Italia da Primeira-ministra Giorgia Meloni. Em sentido contrário, tanto o ECR como o governo de Meloni não têm sido integrados nos entendimentos que determinarão o futuro próximo do projeto europeu, ao passo que o grupo Greens/EFA tem sido sinalizado como um quarto aliado para garantir uma maioria parlamentar europeísta para a segunda Comissão Europeia de Ursula von der Leyen.
Se o ECR e a sua tentativa de romper com o cordão sanitário das forças pró-EU, por incentivo ao diálogo e cooperação não registar os resultados esperados, a Centro-Leste da Europa registar-se-á uma nova estratégia beligerante – a formação de um grupo político europeu nativista de direita e anti-UE cunhado de Patriotas pela Europa (PfE). Fundado pelo Fidesz do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, ANO do líder de oposição e empresário checo Andrej Babiš, e o Partido da Liberdade da Áustria, este novo grupo parlamentar soberanista em construção já conta com a adesão formal dos partidos nacionalistas ibéricos Chega e Vox, aglomerando ainda vários interessados que homologam o desígnio ideológico que, tanto o ECR, como o em vias de extinção ID, não foram capazes de cumprir: a subversão das instituições europeias.
Uma ambição cujo alcance político patente não pode ser subestimado, nem ignorado quando consideramos que um atual líder de governo europeu se encontra afiliado a este projeto, com a agravante de existirem outros candidatos à filiação com projetada influência nos processos de decisão europeu intergovernamentais, como o Smer-SD do primeiro-ministro eslovaco Robert Fico, a força partidária líder do novo governo holandês PVV do Geert Wilders e o RN do potencial futuro Primeiro-ministro da França Jordan Bardella. Não será certamente o que merecemos, mas é de momento o cenário europeu que temos.
Nota: O presente artigo foi redigido antes da segunda ronda das Eleições Francesas e do anúncio da nova composição do grupo parlamentar dos Patriotas pela Europa.
Pintura de capa por Max Buri
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